sábado, novembro 03, 2007

Importâncias quase desimportantes



Eu acordei hoje cheia de coisas para dizer

Mas aquele estado sonâmbulo me tomou todas as palavras

Agora eu não lembro mais o que queria contar

E assim, mais uma vez, mil palavras ficam não ditas
E se perde tanta coisa desse mundo
Eu somente queria que você pudesse entrar dentro da minha cabeça
Para que não perdesse nada disso
Para que entendesse tudo o que eu não digo
Tudo o que eu não conseguiria pronunciar

Ver tantas imagens que sentem medo demais para conhecer o mundo

Mas, sei que seria difícil entender a bagunça aqui dentro

Todos os pensamentos divergentes convivendo pacificamente
E
músicas que somente fazem sentido pra mim
Evito pensar que ninguém nunca vai entender

Já que é difícil
demais para mim mesma
Mas começo a me acostumar com a idéia da solidão

E ela me parece cada vez mais delicada

Ainda que delicadeza não combine comigo

De qualquer maneira
...
O tempo mudará tudo
Daqui há um ano ou uma semana

E novamente tudo mudará de lugar
Pessoas entram e saem por esta porta

As vezes eu nem pergunto seus nomes

Talvez porque eu já saiba

Talvez porque eu não
faça questão de saber
E algumas delas roubam coisas muito importantes aqui dentro

Mas nunca é possível impedir isso
A partir
daí cada vazio lembra alguma coisa
E as sugestões são fortes demais para serem ignoradas
De repente, eu me lembro de todas as coisas

E tudo passa a ser importante para mim

Até mesmo Deus

quinta-feira, novembro 01, 2007

Nosso ritmo

Tem tanta coisa na minha cabeça
Tanta coisa em direções opostas
Que falar sobre isso me deixaria louco
e tentar entender seria impossível
Mas, ao menos, tenho muita coisa na cabeça
e ando pensado muito
Sobre mim e sobre a vida
As vezes sinto que a entendo cada vez mais
As vezes sinto que a entendo cada vez menos
Mas, ao menos, estamos conectadas uma com a outra
Nos encontramos todos os dias
e nos olhamos nos olhos em todas as esquinas
Em todos os sorrisos de criança
Porque não queremos simplesmente passar uma pela outra
Queremos nos sentir
e nos conhecer
Como se eu fosse ela e ela fosse eu
Porém, eventualmente, nossos rostos nos parecem invisíveis
Ficamos por longos momentos tentando achar algo que signifique mais
Contentando-nos em não encontrar
É quando me vejo num mundo todo branco
E todas as formas me parecem iguais
Sem cores, sem moldes
Não há nada que se pareça com felicidade
Aí, de repente, ouço um riso suave
Tudo volta ao seu lugar
E meu coração volta a bater no mesmo ritmo que o dele

terça-feira, outubro 23, 2007

Talking to strangers


Minha alma mudou-se
Foi para longe de mim

Para outro lugar

E, embora eu sinta o vazio que ela deixou,

O
abajur aceso continua me mostrando o caminho
E a maioria das fotografias continua no lugar

Os pensamentos em ordem me deixam
confortável
Confortável
o bastante para viver
Um dia após o outro
Mas, quem me conhece de verdade,

Diria que me falta o brilho no olhar
E a alegria no sorriso

Mas, eu, que sei que tudo passa

Fingo
não ver
Me recolho com a corrente do rio

E com todos os cisnes que já fazem parte da minha vida
Caminho para o outro lado

Converso com estranhos cada vez mais
Sobre coisas cada vez mais intimas

Talvez para evitar lembrar

Que já não tenho como conversar comigo mesmo

Mas sei que um dia
minh'alma voltará
Ou acabaremos nos encontrando
Casualmente numa esquina qualquer
Talvez quase sem lembranças uma da outra
Talvez conformadas e cinzas

Com tudo que a vida obriga a acostumar-se
E, aí, quem me conhece vai ver novamente
Brilho nos meus olhos
E alegria no meu sorriso

quarta-feira, agosto 29, 2007

Minhas paredes




Às vezes me sinto um ser desonesto
Com todos os meus sorrisos falsos
E cumprimentos educados demais
Me sinto trivial e vulgar
Especialmente quando me obrigo a dar um abraço
Ou dizer que me importo
Quando tudo o que quero é estar longe dali
Mas o fato é que poucos podem me ver
Poucos podem saber quem eu sou
E andar dentro de mim
Porque aqui dentro nem todas as luzes estão acesas
E os móveis mudam de lugar sempre
Pouca gente entende como funciona
E pouca gente gosta mesmo assim
Mas eu entendo os que não entendem
E os que não aceitam
Mas não posso mudar para que eles se sintam melhor
Não posso me abrir para que eles possam ver o que não querem
Se eles entrarem e não virem uma foto deles pendurada na minha parede
Como se sentirão?
Em meio a tantos outros retratos de outros amigos...
As cores das minhas paredes estão sempre se transformando
E não tem como dizer se é bom ou ruim
Só que haveria uma guerra
Caso todos os meus pensamentos viessem à tona
E eu seria a principal acusada no final de tudo
Evito este tipo de coisa
E o tipo de pessoa que cobra amor
Não dou o que não posso dar
E, sim, me sinto culpada por isso
Mas sou contra a distribuição gratuita de medalhas
Ou altares encomendados
E a coisa mais bonita do mundo, para mim,
É a estrada
E algumas velhas fotografias no bolso

terça-feira, agosto 28, 2007

Viajante

Minha alma
É a de um viajante
Que se acostuma rápido demais com idas e vindas
E talvez goste demais de solidão

Minha alma não gosta de despedidas
É, porém, habilidosa na arte de abandonar
E somente eu sei o que é
Ver um barco partir
Sem saber se vai voltar

Porque eu gostaria de estar em todos os barcos
Em todos os aviões
E em todos os pensamentos e idéias
Que estão, neste momento, indo para algum lugar

Porque sei que quase ninguém
No fundo
É livre
Embora isto seja algo pelo que todos deveriam lutar
Já que brilho nos olhos não se compra
E felicidade é o tipo de coisa que devemos conquistar
Depois de aprender a lidar com a vida

Esta, que pode dar e tomar
Que é tão maravilhosamente bela
E tão misteriosamente justa
De acordo com a atitude de cada um
Sim, todos temos que aprender a lidar com a vida
E usufruir dela,
Ao máximo!

segunda-feira, agosto 20, 2007

Longe demais

Chega uma hora em que tudo se torna questionável
Em que as grandes certezas mostram-se superficiais
E as perguntas aumentam
Mas o vazio continua lá
Talvez até se torne mais profundo
E a minha vida mais uma vez fica de cabeça pra baixo

Não há como desejar algo que não faça bem
Ao resto do mundo
Mas, ao mesmo tempo,
Me parece difícil aceitar que
Minhas palavras tenham conseqüências
Por vezes tão amplas
Em tantos universos
E que eu tenha que me moldar
Para não machucar
Aos outros
E a mim mesma
Mesmo tentando estar distante de tudo
Mesmo tentando recomeçar
Quando preciso de uma escuridão e de um esconderijo
As pessoas não entendem que não há necessidade de ajuda
Só de um lugar
E que a minha alma anseia por solidão
Mas quem quer ser solitário neste mundo?
E quem quer estar com alguém?
Quando ficar sozinha no escuro me faz bem
É muito difícil ser eu mesma
Porque se ninguém mais pode entender
Ou enxergar através do que pareço
Quem vai entender as minhas perguntas?
Talvez existam muitos dentro de mim
E quando todos eles passam por perto
Deixam cada vez mais histórias
Cada vez mais questões
Levando todas as minhas respostas
E quando tudo existe dentro de mim
Todos os caminhos se encontram
E me torno pessoas demais
Diferentes demais
Sem, no entanto, nunca saber
Quem é real
Ou se ao menos existe a realidade.

sábado, julho 28, 2007

Pouca coisa


O céu fica cada vez mais escuro pra mim
E ninguém percebe a tristeza alheia
As pessoas passam
Assim como as horas e os dias
Cada um em seu tempo e da sua maneira
E poucos voltam atrás
Pouca coisa se relaciona
Pouca coisa importa
E ninguém mais cumpre promessas
Tudo parece se afastar da minha esfera
E pouco a pouco eu já não conheço ninguém
Não reconheço rostos ou vozes
E vejo um estranho todos os dias no espelho
Os sentimentos passam por mim como meteoros
E nenhum deles fica tempo o suficiente
As pessoas que eu amava parecem inacessíveis
Ou talvez eu tenha ido longe demais
Talvez tenha me perdido
Até de mim
Só sei que a vida está indo embora
E tudo me parece vulgar
Meus momentos não possuem mais brilho
E o amor se transformou em carinho
Hoje odeio conversas de elevador
Ou trocas desnecessárias de afeto
Porque nada soa verdadeiramente certo
E o mundo parece ter aumentado a velocidade
Mas eu permaneço no mesmo lugar
Trancada, tentando voltar
E o universo a minha volta corre
Cada um com seu lugar, sua hora, sua pressa
Cada canto com um vazio particular
E eu só penso em ficar nua
E sair pintando a vida por onde passar
Colocar cores
Tentar viver amores
Diminuir a correria
Mudar tudo de lugar
As velas acesas me lembram de algo
E penso no sagrado que deveria existir
No interior de cada pensamento profano
E nas palavras, no canto
No som da risada de cada ser humano
Que assisto a cada dia seguir por aqui
Mas ninguém percebe mais os sentimentos alheios
E o desespero nos meus olhos já parece normal

sexta-feira, julho 27, 2007

Antes do fim



Acho que a vida é muito mais
Pena que eu seja tão pequena diante dela
E me sinta tão incapaz
Ainda sabendo que este sentimento é uma farsa
Uma desculpa
Uma maneira de fugir ainda mais
Fugir do que quero, do que espero
Fugir de coisas que sei que são possíveis
Mas que dão trabalho demais
Ou são arriscadas demais
Planos que nunca foram traçados por ninguém
E a consequente necessidade de abrir um caminho no meio do nada
Acho que fujo, então, de mim mesma

E de mil coisas que quero
Entrando numa cadeia de acomodação global
E repetindo as mesmas coisas que todo mundo
Unicamente porque é provado que dão certo
Talvez eu até tente fugir de uma maneira diferente
Mas é só pra parecer que não estou fugindo de verdade
E tentando provar que todo mundo está
Para tudo parecer um pouco mais certo
Quando não está...
Nada está certo ou bonito ou verdadeiro

Nem em mim nem no resto do mundo
E todos gritam por mudanças
Querendo ser mais do que sabem que são
O mundo continua girando

E quase ninguém percebe que continua parado
Porque tudo parece estar no seu devido lugar
E ninguém mais presta atenção no céu
Ou no formato das nuvens
E a vida passa cada vez mais rápida
Por todo mundo
Quando o vento sopra

E já não se ouve mais seu grito
É preciso mudar de lugar
Quando a vida passa sem trazer sorrisos
É preciso mudar
Mudar tudo
Sair
Voar
Enquanto a vida passa

É preciso realizar sonhos
Levantar e lutar
Mas antes da vida passar

quinta-feira, julho 26, 2007

Limites e horizontes


Existe coisa demais no mundo
Existe muita gente
Muitos lugares, muitos sorrisos
Perdidos em milhões de momentos
Que eu posso nunca viver
Ou que eu venha a esquecer
Em cada segundo
Eu vejo mil possibilidades
E tenho mil vontades
E a maioria delas nunca chegará à realidade
Algumas nem ao menos serão compreendidas
Outras são inconfessáveis demais para se pronunciar
E a cada momento
Algo totalmente novo e extraordinário...
Morre
E talvez venha daí a minha eterna dor
Porque cada perda me dói
Arranca de mim uma parte preciosa
Situações que eu nunca vou viver
E o resto de mim intensifica-se na busca por mais

Considero sublime a busca pelo resto do mundo
A incansável busca do além
Ainda quando se sabe que sempre haverá algo mais
Um limite a ser cruzado

Há guerra demais no mundo
Muitos pensamentos opostos
E, às vezes, tudo que eu quero é destruir algo
E me tornar como todo mundo
Quando há energia demais por dentro
É necessário explodir
E tentar por um fim em tudo
Tento fazer isto à minha maneira
Que pode até ser clichê
Abandonar tudo
Enterrar todas as coisas
Vivas ou mortas
Construir algo novo
Ainda que sem destino
Ainda que sem rumo
E tentar fazer algo melhor
Ao desenhar meu próprio futuro
Realizar este desejo praticamente intrínseco à minha pessoa
Que pulsa em mim todos os dias
Que está tatuado na minha pele
Embora somente eu possa ver
Este desejo
Que me manda ir
Somente ir

domingo, julho 15, 2007

S.E.N

Eu gosto da sua cara de sono
Gosto do seu jeito de falar
E de calar
Gosto quando mexe no cabelo
Gosto das suas roupas amassadas
Da calça jeans surrada
Do seu jeito de andar
Gosto da sua mochila preta
E de como ela parece um casco de tartaruga
Gosto dos sustos que dá
Gosto quando conta coisas engraçadas
Gosto quando senta e não diz nada
Ou quando sai sem avisar
Gosto quando fica irritado às quartas-feiras
Gosto até de te ouvir reclamar
Gosto de como parece alheio a tudo
E de como acredita que passa pelo mundo sem ninguém reparar
Gosto do seu olhar solitário
Do seu cabelo bagunçado
E da sua cara de quem está sempre a pensar
Gosto da sua boca perfeita
Gosto quando usa sua hering vermelha
Gosto da argola pendurada na sua orelha
Gosto da sua cor
E de como diz “alô”
Gosto do allstar no seu pé
E dos cocos na sua camisa
Gosto até da alergia que tanto te irrita
E de como fica feliz quando seu time ganha
Gosto quando usa seus óculos
Gosto quando me olha nos olhos

E parece não ter o que falar
Gosto quando tira assuntos do nada
Mas de repente se cala
Sem se importar com quem precisa falar
Gosto de não saber tanto sobre você
E ainda assim gostar do que consigo ver

(Adoro quando te encontro sem querer
E odeio o fato de não me querer)



É tão bonito e destrutivo sentir isso
Mas melhor quando passa
E se percebe o quanto os sentimentos podem ser fugazes

quinta-feira, julho 12, 2007

Espera atroz


A espera me é atroz
Porque não me soma nada
Somente permaneço imóvel
A espera de tudo
Ou a espera de nada
E parece que nada chega
Que nada acontece
E que tudo permaneceu ruim
Ou vago demais...
Perdido quem sabe
Mas definitivamente calmo
Sim, calmo demais
E a vida sem grandes sentimentos arrebatadores
Me parece injusta
Acho injusto ter que lutar
Lutar por algo que já deveria ser meu
Por direito
Por princípio
Ou mesmo por fim
Algo que deveria estar aqui
E ainda não chegou
Um lugar, uma pessoa, uma coisa
Uma janela, quem sabe
Ou somente uma sensação
Que não consigo acessar
Não sei bem como
Só sei esperar...
Mas estou esperando há tempo demais
Esperando algo para me levar

quarta-feira, julho 11, 2007

Eu e meu diploma

Terminei a faculdade.
Ainda não recebi o diploma e não colei o grau, mas tecnicamente falando, eu já terminei a faculdade.
Só que eu ainda não sei o que fazer.
Nem faço idéia na verdade.
E é incrível como isto choca as pessoas. É como se todos tivessem que ter um plano de vida aos 10 anos de idade. E segui-lo fielmente. Daí se no ginásio (eu sei que não se fala ginásio mais, agora é ensino fundamental, mas eu acho feio, oras, problema meu) você decide mudar de idéia, logo começa a ouvir críticas, pois a escolha do segundo grau (por favor, não vamos discutir novamente, você com certeza já conhece meu ponto de vista) é super importante. Se mudar de idéia depois, quanto à faculdade, nossa, tenho pena de você, sei exatamente que este tipo de coisa demora meses para ser esquecida. Mas meus queridos leitores, não se atrevam a mudar de idéia no meio da faculdade, isto é farinha pra encher o saco de um ser humano por toda a vida.
Porque se vocês não têm decorado, o façam agora, a vida tem que ser exatamente assim: Se nasce, cresce, estuda, arruma um excelente emprego, um companheiro, procria-se e morre (com muito dinheiro pra deixar de herança). Só que pra se alcançar a parte do excelente emprego, há que passar pela fase do estudo, que reza a lenda é uma fase de preparação. Pois é, amigos, a concorrência é grande e você te que ser mais esperto que todo mundo. Logo, não há tempo pra se desperdiçar. Você tem que estudar muito, de preferência um pouco mais que todo mundo, ter um bom plano, e seguir em frente.
Nem preciso dizer que tempo é dinheiro e vantagem e que mudar de idéia vai contra tudo isso. É por isso que as pessoas ficam desesperadas quando vêem alguém confuso, é porque elas querem o seu bem, logo, querem que você chegue na frente. Claro que as pessoas terminam loucas e querendo se matar, mas para os humanos isto é normal, então pula esta parte. O grande problema é quando alguém foge à regra e joga tudo pro alto. Aí os humanos ficam loucos.
Não que eu vá jogar tudo pro alto. Vamos com calma. Eu simplesmente estou caminhando no escuro por agora. Simples assim. Terminei a faculdade e não acho isso nada demais. Isso não me torna mais inteligente ou apta que ninguém. Nem me sedimenta ou algo do tipo. Não na minha cabeça. Eu poderia muito bem pendurar meu diploma num malabar e entrar pro circo. Ninguém mais entende isso, mas pra mim é super normal. Poderia também enfiar o meu diploma numa mochila e sair com ele por aí, sem rumo. Afinal, diplomas provavelmente também gostam de passear. E seriamos os dois felizes, eu e o diploma.
Conheço muita gente que teria arrepios ao me ouvir dizendo isso. Só que é a pura verdade. Eu não sei o que fazer, oras. E realmente acho o circo muito mais interessante que algum escritório. E a estrada mais bonita que qualquer shopping center. Ou o mundo é muito estranho ou eu sou uma marciana, porque, pra mim, a vida deveria partir de uma escolha pessoal baseada num desejo íntimo da pessoa. E eu deveria estar fazendo cinema. Porque eu me recuso a usar terno e gravata e trabalhar com gente chata. E convido você, caro leitor, a fazer o mesmo. Livre-se do seu patrão. Roube ele e fuja. Melhor ainda: todos que trabalharem, façam um rombo na sua empresa, vamos fazer um fundo pró-liberdade! Compramos uma ilha, fundamos o Estado da Marmelada e pronto, circo pra toda parte. Ou eu me candidato a presidente e todos vocês votam em mim. Uhmm, vendo daqui, já tenho quatro votos! É assim que se começa mesmo. É, viram, em alguns poucos minutos já arrumei o que fazer. Vou pegar meu diploma e seremos presidentes.

segunda-feira, julho 09, 2007

Intervalo


Paulo não saberia dizer exatamente como foi. Um dia simplesmente acordou trinta anos mais velho. Seu rosto havia mudado, seu corpo e todos os objetos ao seu redor, que ou estavam completamente obsoletos ou lhe eram completamente estranhos. Estava acordado por mais de uma hora e ainda não tinha forças suficientes para sair da cama, somente olhava tudo com um misto de espanto e medo, porém de forma condescendente debaixo de seu lençol. Pensava que só poderia ser um sonho, afinal não estava em pânico, tudo lhe parecia estranhamente familiar e certo. E embora buscasse na memória historias que lhe contassem como aquilo foi acontecer, realmente só havia um grande vazio entre seus vinte e seus cinqüenta anos, porque de alguma maneira, sabia que essa era a sua idade agora, na verdade, tinha certeza.
Num ímpeto de coragem levantou-se bruscamente da cama, teria caído no chão se não fosse uma poltrona para aparar sua queda e começou a andar pelo quarto, como quem parte para uma grande aventura sem volta. Examinava cada centímetro do recinto e cada objeto com um cuidado absurdo, receando perder algum mínimo detalhe importantíssimo. Depois de gastar mais algumas horas observando tudo, temendo barulhos que aparelhos eletrônicos faziam aleatoriamente, seu estomago roncou e assim, como que por mágica, esse chamado da natureza fez esvair-se todo o medo que lhe assombrava o espírito e dirigiu-se à cozinha, como se a conhecesse intimamente por todos esses trinta anos e calmamente preparou um sanduíche. Enquanto comia ficou pensando nas suas ultimas lembranças, os dias que seguiram-se ao seu aniversario de vinte anos. Lembrou-se de como amaldiçoara seu destino, dizendo que podiam passar-se trinta anos sem que nada de novo acontecesse, afinal a vida seria mesmo um longo martírio monótono. E assim passaram-se mais alguns minutos em que sua mente ficou completamente vazia, concentrada apenas no sanduíche que comia e no cenário estranhamente familiar a sua volta.
Enquanto observava tudo notou um álbum de fotos em cima de um móvel e foi correndo pega-lo. Sentou-se no chão e passou o resto do dia imerso naquela documentação ilustrada da sua vida. Com algum esforço conseguiu montar uma historia. Descobriu que se formara não em jornalismo, que era o que queria, mas em direito, provavelmente porque era isso que seu pai queria. Terminou com a menina que namorava e até mesmo pensava em casar e teve varias outras, presentes em fotografias por um período de no máximo três anos – sabia disso porque tinha um hábito, que agora se mostrava útil, de anotar as datas das fotografias atrás das mesmas. Apesar de ter dado pra descobrir muita coisa sobre si mesmo, algumas coisas não são passadas através de fotos ou mesmo de diários, se ele tivesse um.
Paulo não sabia se havia sido feliz, triste, frustrado, não fazia idéia de nada, da sensação de cada experiência, tudo agora estava reduzido a algumas fotografias e uma historia montada – uma historia que deveria ter sido vivida. Um sentimento angustiante começava a lhe apertar o peito quando se lembrou da convicção com que achava que a vida era um peso constante e quase ficou aliviado ao pensar que se o fosse, então realmente se livrara de muita coisa ao pular tanto tempo. Estava quase acreditando em si mesmo quando começou a chorar compulsivamente e não sabia se era por culpa ou medo. Acordou deitado em meio às fotografias e sentiu-se bem por um breve momento, até se recordar do que aconteceu. Desde que se lembrava, esta era sua sensação preferida, a de estar quase dormindo, quase acordado, quando nada importa, nada é nem ao menos completamente real. Mas este momento acabava de passar, e ele tinha que se levantar e agüentar o peso de sua existência. Dos cacos de seu passado e os planos para o futuro.

domingo, julho 08, 2007

Ir embora

É preciso ter coragem
Para sorrir e para chorar
É preciso ter coragem
Para gritar e para calar

Mas penso que o medo também faz parte
A angústia, a dúvida
E tudo que me prende neste lugar
Todos os meus pensamentos e sentimentos
Todos os lugares para os quais posso não voltar
Mas esta ânsia de ir embora me castiga
E me faz ponderar
Entre ficar ou fugir pra nunca voltar
Não sei o que me aguarda
Não sei do que vou gostar
Sei que sentirei falta de tudo
Do meu mundo
Até mesmo do meu suposto futuro
Mas preciso procurar
Algo pra preencher este vazio
Ou ao menos pra me ajudar a suportar
Sei que é preciso ter coragem
Para ir e para ficar
É preciso ter coragem
Para parar e para continuar

sábado, julho 07, 2007

Algum lugar


As vezes eu acordo e acho que envelheci trinta anos
As vezes me sinto uma criança
As vezes o mundo gira rápido demais
As vezes um dia parece durar uma semana
E eu só queria que tudo passasse
Só queria mudar o ritmo da música
Pra poder mudar a dança
Adicionar instrumentos medievais
Para contrastar com meu canto pós-moderno
As vezes eu gostaria de desfazer as coisas
Pra poder fazer tudo certo
Expandir os limites de tudo
Da minha vida, do mundo
Quem sabe mudar todo o futuro
E achar um lugar no meio de tudo isso
Pra descansar
Sentar e pensar
Ver a beleza no fundo de cada abismo
As vezes eu só gostaria de ser outra pessoa
Ver o mundo com outros olhos
E ter outras lembranças
As vezes eu só consigo pensar em ir embora
Sair daqui
Talvez nunca mais voltar
Fugir de algo que sei que me persegue
Mas que não sei bem o que é
Só sei que sinto este imenso medo
Este imenso desejo
De escapar do vazio, do desespero
Que assola tanta gente
Com as quais não quero me igualar
Mas as vezes acho que talvez queira isso demasiadamente
Sem saber como vai ser
Se tudo de fato mudar
Ou as vezes eu me esqueça
Do fato de que nem tudo tem um lugar

quarta-feira, junho 20, 2007

Já não me importo

Eu não me importo mais pelo que se acha nos livros
Eu não me importo com os antigos axiomas
E não me interesso pela versão dos vencedores
Eu quero ler sobre os mendigos
Quero ouvir sinfonias sobre casais monótonos
Quero dar um troféu para o último colocado
Eu já não aguento mais ver gente linda e perfeita
Já não aguento mais ver gente rica e bem vestida
E prefiro morrer à ceder à demagogia
E quero matar um pseudo-herói
Eu quero conversar com os terroristas
Quero entender os psicopatas
E sair de férias para um hospício
Porque eu não aguento mais as pessoas normais
Não aguento mais os seus discursos iguais
Não aguento mais o conhecimento burro dos jornais
Eu quero fundar a "idiotalândia"
Quero ver num palhaço um sábio
Quero que todos saiam do armário
E consumam a vida fora do horário, do prazo, da coerência
Quero pedir um lunático em casamento
E sair deste mundo
Porque eu já não aguento mais o capitalismo
Ou o liberalismo, o socialismo, o fascismo
Nem qualquer outro "ismo" que existe ou existirá
Já que a suposta razão dos desumanos não me diz respeito
Eu prefiro criar minha própria ideologia de vida
Minha própria corrente artística
E cantar minha ópera pessoal
Escrita por mim, ensaiada por mim, encenada por mim

domingo, junho 10, 2007

Esperando em incertezas

Estou esperando alguém chegar
Estou esperando há tempo demais
Estou esperando as coisas acontecerem
E elas não acontecem
Sinto que tenho que fazer algo...
Mas não consigo
Acho que vou pular
Tenho muita vontade de pular
De partir
Ir pra outro lugar
Voltar,
Não voltar
O vento está me chamando
A chuva está me levando
E eu me sinto bem
De repente, eu sou...Deus
E tudo está dentro de mim
Eu sou tudo e eu sinto tudo
E todas as sensações são maravilhosas
Até mesmo a dor
Eu quero mesmo ser Deus
Ou me encontrar com ele
Eu quero sentir tudo
O tempo todo
Eu quero a vida
Quero a vida, toda, em cada pedaço de mim
Quero sentir o peso de cada célula
Quero flutuar ao saber das coisas
E ser leve, ainda que com o peso de todas as coisas
Porque, no final, não quero ter desaprendido a voar
Não quero ter desaprendido a sorrir
Ainda que no final de tudo
Mas por enquanto não sei o que fazer
E não sei o que medir
Pra fazer do certo algo certíssimo
E pra fazer da vida algo coerente
E místico
E, sim, eu quero voltar
Mas quero chegar lá
Quero ficar
E quero morrer de fome no caminho
Morrer de saudade
Morrer aos gritos
Ressuscitar antes do terceiro dia
Mesmo que seja pra continuar sozinho
E cantar, dançar
Brigar comigo
Fazer as pases e me abraçar
Exatamente como se abraça um amigo
Continuar esperando que algo aconteça
Ou que alguém chegue
Tentando ser feliz enquanto isso.

sexta-feira, junho 08, 2007

Aprendendo









Estou aprendendo a ser solitário de novo
A não ter boas companhias por perto
E, com o tempo, não trocar a solidão por qualquer coisa barata
Estou aprendendo a ser solitário de novo
Estou aprendendo a olhar para dentro
A me conhecer mais do que conheço a outros
A me amar mais do que venha a amar qualquer pessoa
Estou aprendendo a cuidar de mim de novo
Estou voltando a prestar atenção nas menores coisas
A prestar homenagens nos menores gestos
E, principalmente, estou vendo mais poesia nas pessoas
Ando me contentando com pouco,
Precisando de muito para me aborrecer
E mantendo o sorriso no rosto
Mas é incrível que quem me vê
Ainda me veja como um louco
Mas estou aprendendo a não me importar com pouco






"Estou me guardando pra quando o carnaval chegar"

quarta-feira, maio 30, 2007

Um conto sobre Gabriel


Olá, vim para contar uma história. Uma história sobre Gabriel.
Gabriel e o Ballet.

Gabriel era um menino que no auge dos seus vinte anos parecia normal. Cursava a faculdade, tinha amigos, saia nos fins de semana para beber e se divertir, etc. Quem o conhecia poderia dizer com convicção que ele era um rapaz feliz. Mas como todos os outros rapazes ele achava que faltava algo em sua vida. Claro que se divertia e possuía praticamente tudo o que desejasse – na medida do possível – mas ainda assim faltava algo que ele não sabia bem o que era. E só quando estava em contato com a música esquecia disso.
A música era uma das coisas que mais gostava e que mais dava sentido à sua vida. Desde pequeno gostava de ouvir os discos de seu pai e ouvir seu avô falar sobre as bandas de sua época. Pra ele era como se a musica expressasse mais do que ele mesmo conseguiria através das palavras, apreciava mais que tudo as melodias, como elas possuíam uma linguagem única e em sua opinião ainda mais objetiva que as próprias frases. E por volta dos onze anos resolveu aprender a tocar guitarra. Todos os meninos começam a se descobrir nessa idade, tornam-se mais extrovertidos e contestadores da ordem. Mas com Gabriel foi um pouco diferente. Ele, que sempre foi tímido, continuou assim, passando a simplesmente ficar ainda mais absorto no mundo musical.
Cresceu e ao contrário do que todo pai espera para o filho, não resolveu seguir nenhuma profissão formal e montou uma banda de rock. Embora ter uma banda não seja tão fácil quanto trabalhar num escritório e ter horário para entrar e sair, era isso que ele queria e sabia fazer. Depois de pouco tempo gravou algumas músicas, fez alguns shows e tudo indicava que ele era bom, pois as apresentações sempre terminavam com o público animadíssimo. Em pouco tempo gravaram um clipe, deram entrevistas e uma de suas músicas foi selecionada para tocar num seriado juvenil de sucesso. Tudo estava indo perfeitamente bem e pra completar Gabriel conhecera uma garota fantástica. Que além de tudo era lindíssima.
Como se sentia numa maré de sorte ele resolveu ligar pra menina e convidá-la para sair. Conversaram bastante ao telefone e ela o convidou para assistir uma apresentação sua – ele descobriu que a menina era bailarina! – e marcaram de jantar depois. Ele se arrumou e foi ao teatro assistir ao ballet para depois saírem. A apresentação durou quase duas horas, mas ao contrário do que esperava, foi maravilhosa. Ele ficou totalmente encantado com a dança, a música clássica, o cenário, tudo. Para ele foi um encontro com a magia. E durante o jantar quis saber tudo sobre balé, a origem, o desenvolvimento, os espetáculos mais famosos, etc. E foi dormir pensando no fabuloso espetáculo que assistiu neste dia, o qual considerou inesquecível: Gisele.
Na semana seguinte Gabriel voltou ao teatro para assistir novamente à apresentação e achou ainda mais bonita. Reparou em mais detalhes e se emocionou em entender mais profundamente a história. E ficou tão atordoado pensando no balé que nem sequer procurou a garota, foi direto à recepção comprar o livro ilustrado do espetáculo e o Cd para ouvir em casa. Novamente dormiu pensando em Gisele e ouvindo as músicas tocadas na noite. Pensava na melodia e no quanto ela tentava lhe dizer alguma coisa. Algo que embora não conseguisse decifrar estava lá e não saia de sua cabeça. No dia seguinte voltou ao teatro. Comprou ingressos para todos os dias durante todo o mês em que se apresentariam no Rio e sabia que adoraria cada uma dessas vezes, ficando extremamente triste quando chegasse a última – mas ele não queria pensar nisso agora.
Os dias do final de semana iam passando e seus amigos começaram a achar estranho o fato de Gabriel não querer mais sair com eles, sempre dando uma desculpa esfarrapada diferente. Ninguém entendia o que se passava com ele, mas ele simplesmente desconversava e ia embora. Até que num mesmo sábado ele teria que tocar, pois sua banda faria um show, e havia o balé. O ingresso estava comprado e ele precisava ir. Sempre precisava, gostaria até que a companhia se apresentasse durante a semana...ele não sabia o que fazer...tocar guitarra era o que ele mais gostava e não entendia porque de repente o balé se tornara mais importante que tudo. Mas era algo contra o qual não tinha como lutar. E alegando estar doente ele foi ao balé.
Infelizmente o mês passou e Gisele saiu de cartaz, ainda demoraria algum tempo para que outro ballet fosse apresentado na cidade e ele ficou completamente desorientado. Foi a uma loja, comprou alguns dvd´s de balés famosos, mas sabia que não seria a mesma coisa. Passou dias atormentado, sentia falta do ballet, da orquestra, do teatro municipal, da magia de Gisele... E, de repente, como se fosse ensaiado, ele ouviu Adolphe Adam e parou. Achou que estivesse delirando. Mas alguns segundos se passaram e a música continuava lá. Procurou o lugar de onde vinha o som e novamente ficou paralisado. Era uma academia de dança. No momento ele não teve nenhum pensamento claro, formado com palavras certas. Mas a ligação entre ele, o balé e a academia se tornaram evidentes na mesma hora. Ficou embevecido com a idéia e ao som de Adolphe Adam não teve dúvida alguma de que era a decisão certa a ser tomada. Quando voltou a si já estava matriculado, já havia comprado a roupa e pensando em como seria a aula.
Gabriel sabia que ninguém entenderia sua repentina paixão pelo balé, sabia que teria que deixar a banda, mas era tudo tão verdadeiro que por isso ele seria capaz de enfrentar todos, seria capaz de largar toda sua vida. Ao chegar em casa olhou para sua guitarra com o carinho que se olha para velhos brinquedos da infância, que apesar das boas recordações, não nos despertam mais interesse e a guardou no armário. Sentia-se estranhamente leve e em meio a todos os seus Cd´s de rock procurou cuidadosamente um de seus novos Cd´s e rapidamente colocou pra tocar. Experimentou seu uniforme de dança e livremente dançou pelo seu quarto. Dançou tanto, com tanta felicidade e emoção que adormeceu sem perceber. Teve o sonho mais bonito de sua vida: era o bailarino principal de Gisele, e terminava com ela nos braços, dançando no palco...Acordou com a certeza de que somente isso lhe faria feliz. E tomou a decisão mais fácil de sua vida inteira: o Ballet.

segunda-feira, maio 28, 2007

O assalto.

Fui assaltada hoje.
Tenho vinte e um anos, moro no Rio de Janeiro, cidade famosa também pela violência urbana e fui assaltada pela primeira vez.
Uma amiga minha costumava dizer – porque agora ela não vai mais poder dizer isso – que eu deveria ser estudada porque nunca havia sido assaltada apesar de abusar do fato de morar numa cidade violenta. É, agora ela vai ter que mudar o discurso, visto que sou mais um número nas estatísticas...
O louco é que eu estava saindo de casa com meus planos previamente estabelecidos. Ia ao shopping trocar um dvd, passar no super mercado e voltar pra casa. Decidi ir andando porque além de precisar queimar quantas calorias fossem possíveis, estava a fim de pensar um pouco na vida e por isso decidi levar um pequeno caderninho da Cinderela ( no qual escrevo todo tipo de pensamento louco) junto comigo. Bem, não vou me alongar muito na história porque o final está escrito na primeira linha do texto, mas o fato é que nem cheguei perto de completar tudo o que estabeleci para minha noite e ainda por cima perdi tudo: MEU dvd, MEUS cds, MEUS livros, MINHAS coisas aleatórias jogadas na mochila e principalmente, MEU caderninho da Cinderela.
Cara, estou mesmo muito indignada por conta do caderninho. Tenho que frisar isso. E me martirizo toda vez que lembro que iria deixá-lo em casa, afinal ninguém escreve enquanto anda, mas pensei que me sentiria melhor com ele por perto....e o levei. Enfim, ele vai terminar o dia de hoje na lixeira mais próxima dos cidadãos que o levaram...e eu nem posso fazer nada. Até porque eram três os caras e eu não ando com uma doze na cintura. E o pior é que ninguém entendia quando cheguei relatando o ocorrido o quanto aquele caderno era importante! As pessoas falaram na grana que levaram, nos documentos, nas coisas caras que estavam lá dentro...e não que eu não seja nem um pouco materialista, não me sinto assim tão afastada da humanidade nem tão desvinculada do mundo capitalista, mas o que me dói é o que vai fazer falta, e o que vai fazer falta é o maldito caderninho...
Gosto das minhas coisas porque elas mesmo que minimamente fazem parte de mim, contam algo da minha história, estiveram comigo em momentos importantes...não sou do tipo que troca de bolsa toda hora pra seguir as mirabolantes tendências da moda ou que está sempre trocando de celular para seguir a tecnologia de ponta que o mercado disponibiliza. Por acaso a minha mochila era meio cara, mas porque me apaixonei por ela, e ela ficaria comigo por uns dez anos, se não tivessem levado...As poucas coisas caras que haviam nela estavam ali porque aprecio ter-las e todas já estavam comigo havia tempo e permaneceriam por outro longo período – claro, se não tivessem sido levadas. E os caras que a levaram provavelmente vão abrir, ver MUITO papel jogado, provas, textos, livros, o tal caderno (que tristeza ter que incluí-lo nessa lista) e jogar tudo fora de cara. Daí vão pegar a minha carteira e achar dentro dela mais uma infinidade de papeis e cartões de visita aleatórios, e claro, jogar tudo fora, salvo o dinheiro devidamente amassado e espalhado. Vão ver que ao invés de um novíssimo Ipod ou até mesmo um mp3Player eu carregava um DiscMan muito do velho e alguns cds perdidos lá dentro (acabo de lembrar neste exato momento que um cd do Counting Crows ao vivo estava lá dentro, e brother, esse cd é tão importante quanto o tal caderninho...), vão achar uma perda de tempo e jogar finalmente tudo fora, afinal apesar de bonita e cara a minha mochila era suja como um chão de metrô. E no final, ninguém vai ficar tão feliz, eles que se expuseram por quase nada e eu que perdi minhas coisas das quais eu tanto gosto.
Outra coisa chata de ser assaltado é que além de ter roubado seus bens materiais tem sempre algo a mais que vai com os assaltantes. No meu caso foi o apreço que sinto pelo caderninho, pelo cd, etc. E algo que eu nem sabia que poderia ser roubado: a minha rotina. A minha rotina era segura, uma velha conhecida minha, era uma amiga mesmo. Eram os meus planos, que eu sempre fiz – apesar do velho papo de morar numa cidade perigosa – sem pensar muito no que eu posso ou não fazer levando em conta o mundo lá de fora. Tudo que eu tinha planejado para o dia de hoje foram alteradas e muitas coisas que estavam planejadas para outros dias também foram alteradas por estarem vinculadas a coisas que se encontravam naquela mochila. E agora a minha vida, que era somente guiada pelas minhas escolhas, ainda que insanas, confesso, foram alteradas pela violência da minha cidade. Por sorte não deixei levarem mais, como a minha paz, a minha – ainda que pequena – tentativa de compreensão do outro, e toda sorte de coisas que as pessoas normalmente deixam que levem. Enfim, nunca entendi completamente essas pessoas que tem medo de tudo na cidade onde vivem, sempre a considerei especialmente bela e acolhedora, mas agora entendo, porque por mais que continue presa dentro de mim, vou passar a olhar cada vez mais pros lados.
Tenho medo desse mundo. E do lugar pra onde ele me leva a cada dia que passa.

Demasiadamente difícil

É complicado demais olhar para alguém e somente ver o que quero
É complicado demais olhar para vida e esconder o quer não quero saber
É idiota demais fingir pra si mesmo
Ou criar um universo particular
E não sair dele...
Quando se finge se vive na mentira
Se me isolo num mundo paralelo me afasto do real
E consequentemente de tudo nele
Eu sei, eu sei
E me afasto de todos também
Fico longe, perdida, inacessível
Mas é difícil não ser idealista em relação a nada
É mais que difícil, é esquisito
Afinal ser realista não pode ser assim tão bom
Visto que a realidade não é assim tão boa
É estranho não pensar em mundo perfeito , com pessoas perfeitas
Não tentar imaginar todas as coisas boas
Me é difícil não sonhar acordado com elas
É difícil não projetar isso em ninguém, em nada
Difícil demais
Ainda mais quando acredito que é possível
Que é atingível
Pela força da minha vontade o universo todo mudaria
Sairia de órbita
Simplesmente dançaria
Por minha vontade as pessoas seriam muito diferentes
Seriam incoerentes
E ninguém sentiria medo
Como todo ser humano o que quero é realizar meus anseios
E por isso eu sonho
Por isso eu canto, eu escrevo
E por isso eu sempre vou imaginar
As coisas melhores do que elas são
E as pessoas mais belas
Mais vivas,
Mas ricas do que é realmente importante
E sempre verei o mundo sob a ótica da ilusão

sábado, maio 19, 2007

Depois









Depois de um tempo você aprende a viver com a angústia
A lidar com a dor
Depois de um tempo se aprende a viver
Seja como for
Mas só depois de um tempo
Porque no princípio as coisas são fortes demais
Os sentimentos são reais
E o torpor dilacera a alma
A dor torna tudo sem graça
Até minhas cores ficam pálidas
Tudo por causa da dor
Depois de um tempo isso deve passar
Ou ao menos mudar
Ficar esquecido
Ainda que só daqui a um tempo...
Por enquanto não consigo olhar pros mesmos olhos castanhos
Não consigo parar de pensar
E não consigo pensar em outra coisa
Não consigo sonhar com outra pessoa
Não consigo tirar minha mente disso
Por enquanto não dá
Só depois de um tempo
Só depois


Mas quanto tempo?
Não sei...só saberei depois
Depois de um bom tempo
Tempo, tempo, tempo

segunda-feira, maio 14, 2007

Terrível despedida


Quando eu era criança, como todo mundo, adorava brincar. Aliás, quando somos crianças acho que toda a nossa vida se resume a isso. Nosso mundo vai até o parque que conhecemos ou até a casa do primo mais distante, onde em alguns domingos, vamos brincar. Eu nunca tive um quintal ou um playground para minhas brincadeiras e joguinhos, mas ainda sou da época que se podia brincar tranquilamente pelas ruas, e assim o fazia. Lembro-me de nas férias ficar até meia noite com meus coleguinhas brincando de qualquer coisa, e se vocês se lembram, quando se é criança ficar acordado até meia noite é algo fantástico, o tipo do privilégio que só os adultos tem. Nem preciso dizer que eu adorava esses dias de férias. Porém num dos meus dias de férias não havia ninguém pra brincar comigo, ou ao menos não naquele momento pois ainda era manhã e eu resolvi brincar em casa sozinha. Não me lembro exatamente do que eu brincava, só me lembro que ocasionalmente tinha que correr pela sala procurando partes do meu brinquedo. Obviamente minha mãe gritava pra eu parar de correr, dizendo que poderia me machucar, ou pior, quebrar alguma coisa dela ( eu sempre achei que ela tinha que rever a prioridade nessa questão, mas ela achava que isso já estava resolvido). Numa dessas corridas pela sala eu quase derrubei um prato que ficava na parede – coisa que eu sempre achei muito estranha por sinal, porque pra mim prato e parede não combinavam, muito menos como adorno – e a minha mãe gritou furiosamente comigo, me dizendo para ter cuidado com aqueles pratos e coisas sem sentido que “enfeitavam” as paredes. Eu ajeitei o prato, pedi desculpas e prossegui. Continuei brincando, correndo e tentando ter cuidado com a casa. Horas depois da minha brincadeira solitária alguém me chamou pra brincar fora de casa e no desespero de descer logo para brincar com outra criança eu passei correndo novamente pela sala, totalmente desesperada, como é sabido que toda criança se move, mas dessa vez eu sem intenção alguma de fazê-lo, quebrei o prato da parede. Me lembro de ver o tal prato, branco com pequenas flores amarelas, provavelmente pintadas a mão, cair da parede como se estivesse em câmera lenta. Óbvio que na vida real ele se movia rápido demais pra eu pegar e se espatifou no chão. Eu fiquei chocada olhando pra ele, sentindo um misto de medo com culpa, pois sabia que a bronca era certa, só temia suas proporções. Quando minha mãe ouviu o barulho do prato quebrando ela veio na hora, me deu a pior bronca que eu poderia levar, claro, aos berros. E quando ia me dizer qual seria o meu castigo, parou, ponderou e simplesmente não disse nada, só saiu da sala. Eu fiquei sem entender nada, mas não ousei me mexer, fiquei pacientemente esperando a minha punição, pois nem a minha fértil imaginação de criança conseguiria conceber o fato de sair daquela situação impunemente. Eis que minha digníssima mãe voltou e tinha uma sacola plástica amarelo berrante nas mãos. Olhou pra minha cara serenamente e disse: - Eu passei muito tempo te avisando, você não me obedeceu, agora arrume suas coisas. Ela não precisou dizer mais nada, eu sabia exatamente do que ela estava falando. O orfanato. Ela sempre dizia que se eu não me comportasse era pra lá que eu ia, e sempre que fazia alguma coisa de errado, ela ameaçava me mandar pra lá. Num mês de junho qualquer – sei que era junho porque fomos à uma festa junina – ela me levou de fato ao orfanato, na verdade, numa festa no orfanato e me mostrou tudo por lá: as camas, o parquinho, a escola, e me falou exatamente como a minha vida seria se ela me internasse lá. Acordar cedo, colocar uniforme, ir pra escola, almoçar o que colocassem no meu prato e daí pra pior...Enfim, o meu dia havia chegado, e tudo por causa daquele maldito prato. Claro que não simplesmente aceitei isso. Comecei a chorar compulsivamente e implorar para não ser lavada pra lá, fiz todas as promessas de bom comportamento que nem uma criança da realeza poderia cumprir. Mas de nada adiantou, minha mãe estava irredutível, eu realmente iria pro orfanato. Ela me deu vinte minutos para arrumar as minhas coisas e me mandou levar o mínimo possível, afinal, eu não poderia ficar com muito mesmo. Eu peguei apenas as minhas roupas preferidas – que segundo me lembrava do “tour” pelo orfanato – poderia usar aos domingos. Chorava a ponto de não conseguir respirar direito. Até hoje me lembro do quanto olhei pro meu quarto, pois sabia que era a ultima vez, e do quanto abracei com o coração todos os meus brinquedos e ursinhos de pelúcia. Não conseguia aceitar o fato que não veria nada novamente e meu coração doía como o coração de nenhuma criança deveria doer. Nunca esquecerei essa dor. Nunca houve nada igual a ela. Não devo ter demorado muito tempo, porque minha mãe mandava eu me apressar, mas nas minhas lembranças esse momento demorou uma eternidade, como as despedidas costumam parecer. E finalmente, com minha sacolinha amarela cheia das minhas coisas mais preciosas, eu sai do quarto. Tristemente avisei à minha mãe que estava pronta. Olhei pra trás só uma ultima vez e fechei a porta do quarto. Respirei fundo e esperei que ela me levasse embora. Ela, que esteve esse tempo todo me observando, ficou me olhando por algum tempo com um olhar grave, quando finalmente disse que já estava muito tarde e que não iria mais me levar naquele dia, somente no próximo. No dia seguinte ela fingiu esquecer de me levar embora e eu não ousei mencionar o assunto. Alias, não ousei mencionar o assunto por anos. Não saberia dizer por quanto tempo vivi sob o medo de ser levada embora e a sensação de não poder me apegar, para não ter que passar por outra despedida. Até hoje acordo em algumas noites tendo pesadelos com essa cena...queria saber apagar esse tipo de coisa da memória.

quarta-feira, maio 09, 2007

O que deveria ser


É como se não faltasse
Mas também não sobrasse nada
É como se a pergunta estivesse suspensa
Pois não há resposta
E não há esperança de recebê-la
É algo parecido com um vazio
Ainda que haja algum tipo de presença
Mesmo que eu não saiba do que se trata
Talvez por ser algo estranho a mim...
É como se não houvesse fé
E ao mesmo tempo
Não houvesse uma maneira de viver sem ela
É algo parecido com um pedido
E a espera de tê-lo atendido
A eterna espera
E o incrível medo de viver sem ter recebido
É um misto de falta com indiferença
É um misto de desejo com crenças
É um querer demais
Quando se sabe que esperar não vale a pena
Que tentar não recompensa
Sobra esse grande espanto
Essa grande confusão
Diante da vida, diante dos sonhos, diante de tudo
E resta essa desilusão
Por tudo que deveria ser
Por tudo que não é
E se fica parado, simplesmente parado
Não inerte...mas parado, cansado
Sem ter com o que sonhar
Quando não há nem uma fotografia para nos lembrar
A imagem perde o foco até desaparecer
Ou aparece em pesadelos
Me deixa sem saber o que fazer
E ainda há essa pergunta suspensa
E essa falta do que fazer

sábado, maio 05, 2007

Começo a conhecer-me




Começo a conhecer-me. Não existo.
Sou o intervalo entre o que desejo ser e os outros me fizeram,
ou metade desse intervalo, porque também há vida ...
Sou isso, enfim ...
Apague a luz, feche a porta e deixe de ter barulhos de chinelos no corredor.
Fique eu no quarto só com o grande sossego de mim mesmo.
É um universo barato.


Álvaro de Campos





Álvaro de Campos está para Mariana como Mariana está para Álvaro de Campos.

sexta-feira, abril 27, 2007

Com o vento




Eu que me mostro por inteiro
Eu que estou sempre do avesso
Aberta, livre, vulnerável
Pra qualquer um tocar
Pra qualquer um brincar
Eu que acredito na verdade
No amor e na justiça
Que protejo as pessoas queridas
Que espero a bondade voltar...
Eu que quero o bem de todos
Apanho sem poder gritar
Sofro sem saber brigar
E toda maldade que recebo
Chega tentando arrasar
E fica por dias a fio
Mas vai embora sem eu notar
Vai com essa chuva que lava a minha alma
Vai com esse vento
Que me diz o que preciso saber com calma
Com a calma e a paciência de um amigo
Que nos momentos difíceis
Também chamo de abrigo



" I don´t wanna be like you, she says...
Live me alone, live me alone....
she says: - I´m the girl on the car in the parking lot
She says: - man, why don´t you take a shot ?
Can´t you see me? Don´t you see me at all?
All my walls are crumbling...
My walls are falling down
She looks up at the building
All her walls are crumbling down
She looks up at the building
She says: - I´m thinking of jumping
She says: - I´m sick tired of life
Well everybody is tired of something..."

Counting Crows - Round Here




domingo, abril 22, 2007

Crenças


Quando somos pequenos acreditamos em praticamente tudo. Bem, eu cresci e continuei acreditando em praticamente tudo. Principalmente, em praticamente todos. Acredito em natal, em papai noel , em coelhinho da páscoa e em chocolate. Acredito em balões de festa, em fazer pedido antes de soprar a vela, acredito em arco-íris depois da tempestade. Acredito em tornar-se irmão depois de esfregar feridas, acredito em amigos para sempre. Acredito na redenção da ratinha presunçosa, acredito que o bem sempre vence no final, acredito que já fui a mulher maravilha por um dia. Acredito em mergulho depois do almoço, em banhos de chuva, em chocolate antes de dormir. Acredito que posso voar se pensar em coisas boas. Acredito na terra do nunca, no he-man e no capitão planeta. Acredito que vemos melhor com o coração, que o essencial é invisível aos olhos. E olho sempre para o céu, imaginando que um carneiro e uma rosa ficaram amigos e um príncipe sossegado. Nunca vou deixar de acreditar nesse tipo de coisa. São as coisas mais importantes que existem. E mesmo que outras coisas nas quais acredito não dêem certo, se mostrem efêmeras, algumas coisas nunca mudam. E o arco-íris realmente aparece depois de cada tempestade. E traz consigo sua magia. Continuo acreditando na bondade, na verdade, na justiça e no amor. Agora só sei que eles não estão em todos os lugares onde deveriam estar. E por mais que isso seja triste...é só olhar pra outra direção. Sempre existe beleza em outros lugares. E a cicatriz com o tempo também vai ficando bela, porque é a dor da experiência, que deu errado mas foi vivida. Vivida da melhor forma, com plenitude, com coragem. Pular pode significar cair ou voar. Dessa vez cai, da próxima vez posso voar. E não vou deixar de acreditar, acreditar em praticamente tudo. E em praticamente todos. Porque sempre vou enxergar com o coração...Mas os homens hoje em dia parecem não acreditar em mais nada.



O teatro mágico - O anjo mais velho

sexta-feira, abril 20, 2007

Pensando o homem em mim. Parte dois.

Toda constatação de maldade no mundo, seja no plano social ou político, invariavelmente me entristece. Cada noticia ruim na televisão me mostra, na maioria das vezes com imagens chocantes, a realidade caótica em que vivemos. E todo dia acontece algo de diferente e surpreendentemente pior. Quando somos menores, por bastante tempo acreditamos que o mal se limita às guerras e conflitos devidamente delimitados, salvo poucos casos de barbárie efetuados por psicopatas (ou sempre alguém com um desvio absurdo de comportamento) que sempre chocam a sociedade. Quando crescemos e prestamos mais atenção ao noticiário percebemos que a maldade está em todo lugar, que a violência é gratuita e que o lado negro da força ganha inúmeras vezes sim, ainda que infelizmente. Vemos o tempo todo seqüestros, assassinatos em série, estupros. Todo tipo de violência. Generalizada. Mas o mal é sempre o outro, é sempre algo distante, até mesmo cinematográfico. E daí começam a surgir as generalizações, o assaltante é sempre o cara pobre que entra sujo no metro, o tarado é sempre o bêbado que repara nas meninas que passa, etc. Esses tipos são os que devem ser evitados, e mesmo que alguém que não se pareça com o estereótipo criado, se cometer uma falha, vai se procurar algum desvio de conduta na pessoa que possa se encaixar num perfil pré-estabelecido. Se um playboy rouba alguma coisa, mesmo não sendo o típico menino favelado, vai se fuçar alguma coisa até achar. Uma característica negativa qualquer para se culpar, daí se passa a omitir o fato do jovem ser de classe alta para dizer que era, por exemplo, viciado. Se a pessoa for pobre é potencialmente perigosa. Se for rica, mas viciada, também. E assim essas várias características passam a compor o tipo “bandido”. Mas e as atrocidades que não estão no código penal ? Como trair uma pessoa, por exemplo. Ninguém está indefeso contra esse tipo de coisa. Se estereótipos não ajudam em nada com casos sérios, para este tipo de situação simplesmente nem existem estereótipos. Porque a principio, qualquer um pode trair qualquer um a qualquer momento. É tanto qualquer, tanta improbabilidade, que então pode-se esperar o pior de qualquer um. As chances de um agiota te ferrar são maiores que a do seu amigo, mas mesmo assim, este também pode fazer algo contra você a qualquer momento. Não existem seguros contra este tipo de coisa. E o que é pior: de alguém desonesto sabe-se que pode-se esperar desonestidade sempre, mas de alguém que consideramos honesto não, pois nunca se sabe quando esta pessoa vai fazer algo realmente estúpido enquanto não olhamos. Porque o ser humano pode não merecer ser taxado como essencialmente egoísta e ruim, mas demonstra ao longo de sua jornada pelo mundo ser extremamente corruptível. Se não quer sempre o que é do outro, pelo menos quer sempre defender o que é seu e ter mais ainda, ainda que tenha que passar por cima do outro. E se tiver que escolher em algum momento entre ter trabalho para ter o que quer e roubar o que o outro está prestes a conseguir para ter mais fácil, não há duvidas de que vai escolher o caminho mais curto. Enquanto a dor do outro for literalmente a dor do outro, ela não importa tanto assim, se é pra se auto-satisfazer. Mas será que somos corruptíveis invariavelmente ou pelo menos corruptíveis o suficiente a ponto de deixar tanta coisa ruim acontecer para o nosso próprio lucro? Até que ponto se pode ir por um desejo? E, principalmente, será que até mesmo eu faria algo assim, como muitos, sem nem ao menos me dar conta disso? Não gostaria de pensar que algum dia serei capaz de passar por cima de quantas pessoas for necessário para chegar onde quero. Mas se tanta gente faz isso, se isso parece tão normal e eu não me considero tão melhor que ninguém...me pergunto se quando chegar o meu momento serei forte o bastante para não me corromper e seguir em frente lutando com as minhas próprias mãos. Também gosto de pensar que essas coisas partem da índole de cada um. E que felizmente posso confiar na minha e na das pessoas que chamo de amigos. Mas é triste constatar que índole é uma característica intransferível. Uma daquelas que já nasce conosco, assim como a bunda. Penas que algumas pessoas tenham mais bunda que índole.

terça-feira, abril 17, 2007

SunFlower





Nunca ganhei um girassol
Estou me sentindo como uma pessoa que nunca ganhou um girassol
E se você se perguntar como uma pessoa assim se sente
Olhe um campo de girassóis
E imagine o que é nunca ter ganho um girassol
Sabendo que são as flores mais bonitas que existem
Imagine o que é nunca ter ganho um girassol
E saber que uma flor dessas poderia ter iluminado vários dias seus
É olhar pra sua janela e saber que falta alguma coisa nela
Saber que falta um girassol
E sentir falta desse girassol
Ainda que nunca tenha sentido a sensação de ter um pra si
Na verdade ter um girassol pra si é forte demais
Ninguém tem um girassol pra si
Girassol é a flor mais livre que existe
O girassol existe
E o máximo que podemos fazer é amizade com ele
E cuidar desse girassol
Nunca fui amiga de um girassol
Nunca cuidei de um girassol
Estou me sentindo como uma pessoa que nunca deu carinho a um girassol








Elvis Presley - Stuck on you

domingo, abril 15, 2007

Pure evil

Acho impressionante a capacidade que algumas pessoas têm de ferrar a vida dos outros, a vontade que elas têm, o prazer que sentem. Realmente não consigo entender como fuder a vida alheia possa trazer algum tipo de felicidade. Pode até parecer idiota, mas eu sempre tive uma vontade absurda de ajudar os outros, na verdade me sinto mal quando não consigo fazer mais, melhor, realmente fazer diferença. E não é só com os amigos não, por esses eu faço de tudo mesmo, mas até mesmo ver desconhecidos precisando de ajuda me incomoda. Odeio andar na rua e ver gente necessitada, de comida, de teto, de atenção até, e pensar que tudo isso existe porque não existe gente o bastante querendo ajudar, e que as poucas pessoas que querem não são o suficiente pra fazer a total diferença...mas é verdade que as vezes as pessoas simplesmente não podem ajudar...Não querer ajudar que é o pior. Até que descubro eu, existe algo pior que não querer ajudar! Existe também quem queira atrapalhar! Isso é algo tão desprovido de sentido na minha cabeça que posso passar uma hora procurando uma desculpa mirabolante para imaginar que alguém não fez algo ruim intencionalmente. Porque simplesmente não quero entender que existem pessoas más soltas por aí fazendo o que bem entendem. Até que me deparo com uma. Mas, claro, que eu na minha infinita estupidez e crença na bondade alheia achei que não fosse realmente tão ruim como pintavam, me lembro na verdade de chegar a pensar na frase clichê de que todos merecem uma segunda chance. Mas não foi bem assim, terminei descobrindo na pele que sim, existem pessoas ruins por aí, soltas como se fossem pessoas normais e legais, embora sempre estejam prontas pra te sacanear. Essas pessoas bem que poderiam ser verdes, ter chifre e tal, para ser mais fácil de distinguir, mas não, é preciso prestar muita atenção pra perceber. Ou como eu, se fuder. Não consigo entender em que ferrar a vida alheia possa melhorar a própria vida, talvez nunca entenda. Mas algumas pessoas parecem adorar. Sair por aí competindo por competir, tomando sem razão alguma, se divertindo em confundir...tem humor pra tudo né...O foda é que essas pessoas usam de artimanhas que pessoas decentes não tem coragem. São falsas, dissimuladas, manipuladoras. Passam por cima de qualquer um pra ter o objetivo que escolheram. Lutar com qualquer arma é fácil demais, ser desonesto é um caminho rápido pra se chegar onde quer. Mas qual será o preço de uma escolha? Será que vale mesmo a pena derrubar todo mundo pra chegar na frente? Eu nunca escolhi fazer nada assim e provavelmente nunca vou escolher. Na minha opinião só um ser humano muito medíocre faz esse tipo de coisa, só uma pessoa muito desequilibrada mesmo. Até porque é tão mais gostoso conseguir as coisas pelas quais se lutou efetivamente, com honestidade... Mas é claro que nem todo mundo pensa igual e que realmente algumas pessoas pensam o completo oposto de mim. Enquanto algumas pessoas prezam a integridade, algumas realmente devem achar a desonestidade algo maravilhoso. Vai entender. Cair numa dessas é algo que vai acontecer vez ou outra pra quem não joga sujo, simplesmente porque nos recusamos a ir tão baixo. É terrível, mas realmente teria que ter sorte demais pra não conhecer ninguém essencialmente escroto na vida e cair na dessa pessoa. O choque foi tão grande que pensei mesmo em me trancar e ser uma dessas pessoas com mil artimanhas pra ganhar na vida. Mas 24h depois já percebi que nem mesmo que quisesse poderia fazer isso, não saberia como. Sou uma dessas pessoas um pouco mais desprotegidas que a maioria, apanho e o outro lado da face permanece exposto para um segundo golpe. Mas entre apanhar em dobro e ter uma armadura acho que prefiro apanhar em dobro. Ter golpes na manga, não ter escrúpulos, passar por cima de qualquer um, se proteger com armas e escudos deve ser tão deprimente, deve limitar tanto os próprios movimentos, que não sei como não asfixia a pessoa. Ou talvez seja mesmo pela falta de oxigênio que elas ficam loucas e saiam por aí distribuindo golpes ao acaso. Só sei que mesmo machucada continuo não entendendo e não querendo isso pra mim. E daqui a pouco isso será somente uma cicatriz, ao menos não estou sufocando meu espírito. Nunca faria isso com ele.

segunda-feira, abril 02, 2007

Viagens


Eu amo viajar. Amo. Não saberia explicar a sensação de arrumar a mala e cair na estrada de tão intensa e complexa que é. A noite anterior a viagem é gigante, parece ter umas 30 horas, repasso tudo que tenho que levar, confiro os itens da mala, separo o dinheiro e penso no trajeto. Durmo sonhando em chegar lá. No dia seguinte chega a hora de colocar a mochila nas costas e sair de casa, pegar o ônibus ou a carona e seguir em frente. Essa sensação de ficar cada vez mais longe de casa é impressionante, porque não é como ir ao centro e voltar. Você sabe que não voltará tão cedo, que está indo fazer algo inusitado, novo e completamente agradável. E pouco a pouco, toda a minha vida vai ficando pra trás, não num sentido ruim, é simplesmente parte do processo de viajar. Tudo que eu não gosto, que me preocupa, me irrita, fica preso fisicamente ao lugar que estou deixando. E eu sigo em frente. Vou ouvindo as musicas que gosto, conversando com os amigos que me acompanham, pensando em tudo que está por vir e principalmente, contemplando todo o caminho. Adoro todo esse processo, chegar, arrumar as coisas, tentar fazer tudo-ao-mesmo-tempo-agora. Posso ir pro campo, praia, para um lugar desconhecido ou familiar, não me importa, viajar é sempre viajar, é simplesmente algo que tem enorme poder sobre mim. É como ser outra pessoa. Ou talvez ser eu mesma, mas somente uma parte que normalmente fica esquecida, por completo. É esquisito e maravilhoso. Dias em que me importo com coisas que regularmente não tenho tempo ou condições de pensar. Dias em que passo por situações completamente novas e descubro novas aventuras. Até porque atolar o carro no seu próprio bairro é mau humor pra um dia inteiro, mas viajando é uma aventura, dessas que se ri logo depois numa mesa de bar. Porque quando se está viajando é assim, tudo fica mais leve, o mundo e a maneira como o vemos. E como toda experiência verdadeiramente intensa, deixa marcas que ficam por tempos. Chegar de viagem é bom por isso. Você continua leve, embora tenha voltado pro seu velho mundo e todo peso que ele sustenta. E percebe que muitas das coisas que te perturbavam simplesmente não têm tanta importância, porque você esteve lá fora e pôde perceber que não faz diferença... E é gostoso ver isso, olhar as coisas por outro ângulo, como se não tivesse sido você mesmo a avaliar. E viajar sempre proporciona essa experiência. Sempre. Por isso que amo viajar. Amo.

domingo, abril 01, 2007

Tão triste

Ando tão, tão triste
Que só queria que isso desaparecesse
Do vazio agüento só a metade
E nada da dor ou angústia
Não sei nem de onde vem
É só um vento que sopra
E me deixa ainda pior
Pensamentos que me ocorrem
Me deixando cada vez mais só
E esse nó que eu sinto
Vai da garganta ao peito
E parece não ter jeito de desatar
Não sei como vai ser o resto da minha vida
Não sei se encaro ou me calo
Pois não sei aceitar nem lutar
E continuo gritando calado
Esperando que no fundo do meu silêncio
Alguém possa me escutar falar...
As vezes resolvo toda minha vida num segundo
Mas me falta coragem pra continuar
As vezes fecho os olhos
E choro por dentro feito criança
Mas logo tenho que acordar
E fingir encarar tudo

Fingir ter coragem como todo mundo
Mas ainda não consigo me encarar no espelho
Olhar pra dentro de mim
E perceber que o que pareço
Não condiz com tudo que vejo

sexta-feira, março 23, 2007

Caros amigos


Quase não entendo a necessidade absurda que as pessoas têm de estarem apaixonadas. De fato não entenderia se eu mesma não apreciasse demasiadamente sentir os joelhos mais fracos e o coração quase que a explodir por alguém. Porém mesmo assim não deixo de me perguntar o real motivo por trás desse desejo, a raiz dessa busca incessante por noites sem dormir pensando em uma pessoa em especial. Afinal, qualquer mortal sabe que essas noites insones de sonhos sem fim também são agonizantes, ainda mais quando se tem que acordar cedo no dia seguinte, trabalhar ou ler um livro inteiro. Todos sabemos que parecer idiota na frente de uma pessoa não pode efetivamente ser considerado um comportamento minimamente interessante, gaguejar então, super atraente. Mas penso que o mais engraçado sejam as frases estúpidas que conseguimos articular quando recobramos a fala, afinal, quem nunca falou de futebol no meio de uma discussão política ou de Hitler no meio de uma conversa sobre carros e ainda tentou sair falando da produção automobilística nazista contemporânea ? Se você esteve apaixonado, sabe do que eu estou falando e se não falou nenhuma asneira citada acima, sabe que disse outras na mesma proporção caro leitor, na verdade se estiver de bom humor imagino que está agora mesmo a lembrar de suas próprias experiências embaraçosas e rir. Agora que o assunto está devidamente introduzido, convido-o para a partir dessas lembranças que acaba de recordar pensar comigo: Por que cargas d´água buscamos tanto passar por tudo isso? Se fazemos papel de bobos, quase passamos mal ao ouvir “oi”, perdemos qualquer rumo ao avistar os lábios sonhados. Por que vale a pena? Claro, como poderia ter ignorado algo que é quase o objetivo, não, na verdade o combustível do objetivo. Esperança. Claro que não precisa ser real ou embasada em alguma possibilidade. Esperança pura e simples. Um misto de desejo e devaneio com uma sensação de segurança. Não faz o menor sentido, eu sei. Mas fé é assim, não questione, sinta. Como se encaixa perfeitamente com joelhos fracos e coração acelerado! Então tentando transformar isso numa equação mais simples temos : joelhos fracos mais coração acelerado mais descontrole total da consciência multiplicado por fé cega. Tenho medo de saber onde isso daria, vou parar com as equações, até porque se fosse boa com elas provavelmente seria um gênio e não uma apaixonada pensadora. Ooops, acabo de revelar meu segredo. Desculpe tentar esconder isso de você, logo você que lê e pensa junto comigo com tamanha paciência. Desculpe-me. Mas veja bem querido amigo, preciso desesperadamente negar esse aperto que sinto no meu peito, essa sensação de impotência total diante de uma pessoa que teoricamente é normal. E pior, preciso desesperadamente negar a minha total insegurança diante disso tudo. Não só preciso como continuo tentando. E continuo pedindo a sua ajuda, afinal, racionalizar algo que independe da razão me parece ser a melhor maneira. Descaracterizar algo facilita sua superação, ainda que não seja justo. Então continue comigo leitor, repetindo que não há sentido nisso tudo, ainda que este não se faça necessário, repita comigo : não faz sentido. Nossa. Quase acreditei. Vamos continuar, estamos quase curados!

quarta-feira, março 21, 2007

Possibilidades

Infinitas Possibilidades


E se eu for o capataz, o chicote e o escravo ao mesmo tempo?
Se eu for o que luta, o que apanha e o que foge?
E se dentro de mim todas as criaturas gritarem por não saber como falar?
Sinto que trago comigo além de todos esses personagens
Toda uma multidão e uma estória
E essa multidão que grita, que cala
Só me devora, me arrasa
É só outra ilusão que não passa
Quando tento falar comigo mesmo
Procuro em vão por uma só voz
É sempre uma música
Ou uma repetição qualquer tentando me imitar
E então eu continuo aqui perdido
Desde que nasci tentando me encontrar comigo
E sigo todos os caminhos
Esperando que um dia algum seja meu
Tentando reconhecer cada pedra
E cada cor que se esqueceu
Preocupado com o fim eu finjo não estar
Pois sem saber como trilhar, como chegarei lá?
Por hora só dor eu tenho
E muito medo de mudar
Para algo que eu não conheça e não entenda
E não conseguir voltar
Fujo do amor
E de tudo o mais que deveria buscar
Fujo da verdade
E busco a verdade
Assim mesmo, ao mesmo tempo
E vou vivendo sozinho
Com o vazio da multidão que carrego
Mas e se realmente eu for o que parte, o que espera e o que protela?
Ainda bem que estou só de passagem
Esquecendo que a vida é plena
Fico triste e choro
Mas termino achando que compensa
O sabor do sonho do qual não se desperta
Entretanto há quem diga que é por medo ou pena
Espero que na minha multidão
Tenha ao menos um pra enfrentar o desespero
E que nem o despertar tema!

domingo, março 18, 2007

Perdedor




Isso não é a minha vida
Isso é uma sombra
Qualquer coisa que demora
Que só prolonga a dor
É um intervalo que afasta o desejo
Uma intercessão que irrompe com todos os medos
É só um grito silencioso de dor
Isso não é a minha vida
É só uma forma fingida
Só o meu papel de ator
É a maneira de escapar ao diálogo
De não manter contato com tudo que me causa torpor

E esse não é o meu rosto
Isso que se vê é um outro,
Um mero sopro
É o vento varrendo com horror
Não reconheço nenhum traço
E não há nada que pareça com as lembranças que trago
Estes gestos não são meus
Estas falas foram ensaiadas
E no espelho não há nada
Que me diga onde estou

Este não é o mundo
É somente o tumulo
Ou mesmo a prisão
De tudo que verdadeiro for
E todas as coisas belas e certas
Estão por aí perdidas
Escondidas
Esperando um sonhador
Que acredite e busque
Que lute apesar da dor

Queria ser este perdedor.

sábado, março 17, 2007

Diário de Marie Jones. No limite da paciência.


Odeio acordar de manhã cedo, odeio, odeio. Pára te tocar despertador, por favor. Tá, tá, levantei. Banho, café da manha, roupa, que cansativo, quero voltar a dormir. Droga. Ah não, hoje é quinta. Quinta-feira, amo quintas. Retiro tudo o que disse antes. Hoje a manhã será boa. Uma hora pra me arrumar, ótimo. Frutinhas, leite, banho....que roupa visto hoje ? Huhahahuauhuhauhauha. Não, não. Acabo de lembrar de uma música terrível, não poderia me sentir mais menininha agora...” faltam tantas horas para eu ir e ainda não sei o que vestir pra ter certeza de te impressionar”....Ai ai. Contra os meus princípios isso. Vou normal. Puta que o pariu...já estou vinte minutos atrasada ? ? Queria muito saber pra onde vai todo o tempo que o universo rouba de mim. Ainda bem que trouxe uma revista pra ler no ônibus, que saco...Nossa, já cheguei? ? Achei que estivesse lendo....é, dormi de novo. Ai ai, correr, correr. Que professor chato, chega super na hora, nem sabe a manha de ser carioca. Ele já chegou, arhmm, que lindo, sentadinho, quietinho. Cara de sono mais perfeita. Hhuauhahauuha. Assumo que o comentário foi patético. Mas saiu mais rápido que minha vontade de segura-lo. Tão bonitinho. Aula, aula, aula. Estava quase esquecendo. Que saco, vou ver o que ele está fazendo. Nerd. Copiando tudo, acho que é o único. Nossa, o braço dele é lindo, nunca tinha reparado, a mão também. Bom. Bom. Não, não. Ruim, ruim. Reparar nessas coisas não é um bom sinal Marie. Não mesmo. Ok, aula novamente. Tentarei copiar algo. Olha, até que essa parada de economia na era Vargas parece interessante.




Pause, pause, pause
















Noooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooot.





Huhauhauhhauuhauha. Ridícula. Copiar, copiar, copiar...nossa, estou a cinco minutos inteiros concentrada na aula, nada de braços, mãos ou carinhas lindas de sono. Parabéns querida. Já ganhei estrelinha, vou dar uma olhadinha rápida agora. Falou comiiiiiiigo. Haja normalmente....tentando, tentando. Ufa, consegui manter um breve diálogo terráqueo normal! Mereço outra estrelinha. Que boca perfeita cara, nem parece boca de homem, que isso. Me perdi agora. Totalmente. Perdida. Quase poderia desenhá-la de tanto que prestei atenção....tomara que ninguém tenha notado.Acabou a aula...que aula mais curta, droga. Tchaaaaaaaaaaaaau pra você também. É...foi embora. Outra semana inteira por vir agora...


Sentimental - Los Hermanos