segunda-feira, outubro 30, 2006

Entre bençãos e Maldições


Entre bênçãos e Maldições

Eu não quero fazer nenhum plano.
Eu não quero ter que escolher.
Não posso escolher nada, a escolha me dói.
Seria renegar todas as outras alternativas,
todas as outras sensações e experiências que me pertencem.
E eu quero tomar tudo que me pertence.
Eu quero experimentar de tudo.
Eu quero um pouco de cada coisa e de cada pessoa.
Eu quero ser muitas em uma só e de uma só vez.

Eu quero tudo ao mesmo tempo e agora.
Eu quero viver 100% dentro de mim e 100% fora.
Eu quero me expandir, virar tudo e depois voltar a ser eu mesma,
e me conhecer completamente.
É exatamente o que quero.
Exatamente.
E o que quero, é apenas, tudo.
Eu quero ser a pessoa mais espiritualizada que existe, quero falar com Deus, quero ser Deus.
E quero cometer todos os pecados e gostar de cada um deles.
E mesmo que eu pudesse ter mil vidas pra experimentar tudo isso,
quero tudo em uma só.
Eu quero sentir o gosto da mescla de todas as coisas.
Eu quero ser uma tela em branco pro Pollock pintar.
E quero me descobrir a cada segundo diferente e igual.
Eu quero entender todos os mistérios, ter todas as respostas.
E quero sempre fazer todas as perguntas.
Eu quero beleza.
Eu quero felicidade estampada nas ruas.
E quero sentir a tristeza que cada lágrima chorar.
Eu quero um céu com mais cores, e quero mais luas.
Eu quero lutar por tudo mundo e no final, ter lutado por mim mesma.
Eu quero ser tudo que já sou e todo o resto também.
E quero ser todos os lugares.
Eu quero todos os castigos.
Eu quero dar todos os tapas e colocar todos em perigo.
Eu quero um pedaço de cada rosto, pra levar todos comigo.
Eu quero provar de todas as bebidas.
Eu quero todos os troféus e todas as avenidas.
E quero viver todos os dias.
Eu quero todos os beijos de despedida.
Eu quero dançar com todos os pares.
Eu quero ser de todas as cidades, sendo, sempre, de lugar algum.
Eu quero correr por todos os malditos caminhos.
Eu quero quebrar todos os espelhos.
Eu quero gritar todos os segredos.
E mesmo que a voz me falte, eu ainda vou querer cantar todas as músicas.
E mesmo que me arrasem, eu ainda vou querer ter todos como amigos.
Porque mesmo que me matem, eu quero ter vivido todas as possibilidades.
Porque no fundo é só isso que quero: todas as vidas, pra mim.
E quero todo o mundo, em mim.

quinta-feira, outubro 26, 2006

O que há


O Que Há

O que há em mim é sobretudo cansaço —
Não disto nem daquilo,
Nem sequer de tudo ou de nada:
Cansaço assim mesmo, ele mesmo, cansaço.

A sutileza das sensações inúteis,
As paixões violentas por coisa nenhuma,
Os amores intensos por o suposto em alguém,
Essas coisas todas -
Essas e o que falta nelas eternamente;
Tudo isso faz um cansaço,
Este cansaço, cansaço.

Há sem dúvida quem ame o infinito,
Há sem dúvida quem deseje o impossível,
Há sem dúvida quem não queira nada —
Três tipos de idealistas, e eu nenhum deles:
Porque eu amo infinitamente o finito,
Porque eu desejo impossivelmente o possível,
Porque quero tudo, ou um pouco mais, se puder ser,
Ou até se não puder ser... E o resultado?

Para eles a vida vivida ou sonhada,
Para eles o sonho sonhado ou vivido,
Para eles a média entre tudo e nada, isto é, isto...
Para mim só um grande, um profundo,
E, ah com que felicidade infecundo, cansaço,
Um supremíssimo cansaço,
Íssimno, íssimo, íssimo,

- Álvaro de Campos


Infelizmente o espaço e o tempo impossibilitaram totalmente meu encontro com este cara.
Este cara que é apenas uma das pessoas mais brilhantes que já passaram pela terra.
Este cara que me entenderia como ninguém.
Este cara que parece ter sentido o que eu sinto com uma verossemilhança absurda.
Ou talvez eu que insista em ver a vida como ele via.
De qualquer maneira ele é definitivamente uma das pessoas que eu escolheria conhecer se pudesse viajar no tempo.
Fernando Pessoa, o cara que sentia demais a vida.

domingo, outubro 22, 2006

Mundos...



Você não tem idéia do que eu sinto por dentro
Você nem quer saber
Você finge que se importa
Ou pensa que já tem todo o poder
Você tem um jeitinho peculiar de demonstrar amor
Com todos os insultos e gritos,...
eu acho tudo isso um horror
Você olha tudo e de tudo quer saber
Mas não faz o menor esforço
Para realmente me perceber,
Para realmente me querer
Você quer fazer parte do meu mundo
Mas quer que meu mundo seja somente você
Você me castra por dentro,
Querendo que eu seja como você

Eu acho lindo o seu jeito
E tudo o que fez de você
Mas não quero nada disso para mim
E ao mesmo tempo não quero te ver sofrer
Não quero agredir seus modos,
Ou seu jeito de viver
Não quero quebrar nossa casa
Nem nada que já me ajudou a crescer
Não quero esquecer da vida,
Nem de nada de você
Não quero nunca olhar teus olhos
E ter medo do que vou ver
Não quero nunca voltar pra casa
Sem saber como vai ser
E não quer sobretudo, sentir ódio de você

Por isso peço que me abrace
Ao invés de me bater
E que fale comigo
Mesmo sem ter muito o que dizer
Eu adoraria que cantasse pra mim
E me falasse de você
Queria que me visse como sou
E não como você quer ver
Gostaria que não tivesse medo,
Nem pensasse no que vou fazer
Porque mesmo não conseguindo dizer
Eu sempre amarei muito você
E mesmo que não consiga me fazer entender
No meu mundoSempre terá um lugar pra você.

terça-feira, outubro 17, 2006

Metade


Metade

Não me encontro hoje por inteiro
Nunca estive totalmente comigo mesma,
Nem por um momento,
E não vejo possibilidade de um dia estar
Sempre me senti dividida
Divida entre todas as fronteiras de todos os mundos
Dividida entre todos os corações de todas as pessoas
Entre todas as mãos de todos os amigos
Sempre estarei dividida
Dividida entre tudo o que quero fazer e tudo o que faço
Dividida entre tudo o que sinto e tudo o que falo
Entre tudo o que procuro e tudo o que acho
Sempre serei dividida
Dividida entre tudo o que eu grito e tudo o que eu calo
Dividida entre tudo que vejo e tudo que me é negado
Entre tudo que eu beijo e tudo que eu maltrato
E tudo que me separa de tudo
Todas as forças que me distanciam das coisas
Das pessoas, dos abraços
Tudo isso é tão invisível, tão abstrato...
E mesmo sabendo tão irreal,
Pra mim é quase palpável
Quase alcançável, quase mutável
Quase
E no final, na hora da entrega
Na hora da sensação de derrota, de desistência
Eu descubro que minha ausência sempre foi minha essência
E toda essa experiência, parte da minha suposta coerência
São minha culpa e meu erro,
Totalmente meus, pensados e repensados
e ainda assim, tão errados, tão lunáticos
Mudar e continuar,...Nunca foi fácil de lidar.