sexta-feira, março 23, 2007

Caros amigos


Quase não entendo a necessidade absurda que as pessoas têm de estarem apaixonadas. De fato não entenderia se eu mesma não apreciasse demasiadamente sentir os joelhos mais fracos e o coração quase que a explodir por alguém. Porém mesmo assim não deixo de me perguntar o real motivo por trás desse desejo, a raiz dessa busca incessante por noites sem dormir pensando em uma pessoa em especial. Afinal, qualquer mortal sabe que essas noites insones de sonhos sem fim também são agonizantes, ainda mais quando se tem que acordar cedo no dia seguinte, trabalhar ou ler um livro inteiro. Todos sabemos que parecer idiota na frente de uma pessoa não pode efetivamente ser considerado um comportamento minimamente interessante, gaguejar então, super atraente. Mas penso que o mais engraçado sejam as frases estúpidas que conseguimos articular quando recobramos a fala, afinal, quem nunca falou de futebol no meio de uma discussão política ou de Hitler no meio de uma conversa sobre carros e ainda tentou sair falando da produção automobilística nazista contemporânea ? Se você esteve apaixonado, sabe do que eu estou falando e se não falou nenhuma asneira citada acima, sabe que disse outras na mesma proporção caro leitor, na verdade se estiver de bom humor imagino que está agora mesmo a lembrar de suas próprias experiências embaraçosas e rir. Agora que o assunto está devidamente introduzido, convido-o para a partir dessas lembranças que acaba de recordar pensar comigo: Por que cargas d´água buscamos tanto passar por tudo isso? Se fazemos papel de bobos, quase passamos mal ao ouvir “oi”, perdemos qualquer rumo ao avistar os lábios sonhados. Por que vale a pena? Claro, como poderia ter ignorado algo que é quase o objetivo, não, na verdade o combustível do objetivo. Esperança. Claro que não precisa ser real ou embasada em alguma possibilidade. Esperança pura e simples. Um misto de desejo e devaneio com uma sensação de segurança. Não faz o menor sentido, eu sei. Mas fé é assim, não questione, sinta. Como se encaixa perfeitamente com joelhos fracos e coração acelerado! Então tentando transformar isso numa equação mais simples temos : joelhos fracos mais coração acelerado mais descontrole total da consciência multiplicado por fé cega. Tenho medo de saber onde isso daria, vou parar com as equações, até porque se fosse boa com elas provavelmente seria um gênio e não uma apaixonada pensadora. Ooops, acabo de revelar meu segredo. Desculpe tentar esconder isso de você, logo você que lê e pensa junto comigo com tamanha paciência. Desculpe-me. Mas veja bem querido amigo, preciso desesperadamente negar esse aperto que sinto no meu peito, essa sensação de impotência total diante de uma pessoa que teoricamente é normal. E pior, preciso desesperadamente negar a minha total insegurança diante disso tudo. Não só preciso como continuo tentando. E continuo pedindo a sua ajuda, afinal, racionalizar algo que independe da razão me parece ser a melhor maneira. Descaracterizar algo facilita sua superação, ainda que não seja justo. Então continue comigo leitor, repetindo que não há sentido nisso tudo, ainda que este não se faça necessário, repita comigo : não faz sentido. Nossa. Quase acreditei. Vamos continuar, estamos quase curados!

quarta-feira, março 21, 2007

Possibilidades

Infinitas Possibilidades


E se eu for o capataz, o chicote e o escravo ao mesmo tempo?
Se eu for o que luta, o que apanha e o que foge?
E se dentro de mim todas as criaturas gritarem por não saber como falar?
Sinto que trago comigo além de todos esses personagens
Toda uma multidão e uma estória
E essa multidão que grita, que cala
Só me devora, me arrasa
É só outra ilusão que não passa
Quando tento falar comigo mesmo
Procuro em vão por uma só voz
É sempre uma música
Ou uma repetição qualquer tentando me imitar
E então eu continuo aqui perdido
Desde que nasci tentando me encontrar comigo
E sigo todos os caminhos
Esperando que um dia algum seja meu
Tentando reconhecer cada pedra
E cada cor que se esqueceu
Preocupado com o fim eu finjo não estar
Pois sem saber como trilhar, como chegarei lá?
Por hora só dor eu tenho
E muito medo de mudar
Para algo que eu não conheça e não entenda
E não conseguir voltar
Fujo do amor
E de tudo o mais que deveria buscar
Fujo da verdade
E busco a verdade
Assim mesmo, ao mesmo tempo
E vou vivendo sozinho
Com o vazio da multidão que carrego
Mas e se realmente eu for o que parte, o que espera e o que protela?
Ainda bem que estou só de passagem
Esquecendo que a vida é plena
Fico triste e choro
Mas termino achando que compensa
O sabor do sonho do qual não se desperta
Entretanto há quem diga que é por medo ou pena
Espero que na minha multidão
Tenha ao menos um pra enfrentar o desespero
E que nem o despertar tema!

domingo, março 18, 2007

Perdedor




Isso não é a minha vida
Isso é uma sombra
Qualquer coisa que demora
Que só prolonga a dor
É um intervalo que afasta o desejo
Uma intercessão que irrompe com todos os medos
É só um grito silencioso de dor
Isso não é a minha vida
É só uma forma fingida
Só o meu papel de ator
É a maneira de escapar ao diálogo
De não manter contato com tudo que me causa torpor

E esse não é o meu rosto
Isso que se vê é um outro,
Um mero sopro
É o vento varrendo com horror
Não reconheço nenhum traço
E não há nada que pareça com as lembranças que trago
Estes gestos não são meus
Estas falas foram ensaiadas
E no espelho não há nada
Que me diga onde estou

Este não é o mundo
É somente o tumulo
Ou mesmo a prisão
De tudo que verdadeiro for
E todas as coisas belas e certas
Estão por aí perdidas
Escondidas
Esperando um sonhador
Que acredite e busque
Que lute apesar da dor

Queria ser este perdedor.

sábado, março 17, 2007

Diário de Marie Jones. No limite da paciência.


Odeio acordar de manhã cedo, odeio, odeio. Pára te tocar despertador, por favor. Tá, tá, levantei. Banho, café da manha, roupa, que cansativo, quero voltar a dormir. Droga. Ah não, hoje é quinta. Quinta-feira, amo quintas. Retiro tudo o que disse antes. Hoje a manhã será boa. Uma hora pra me arrumar, ótimo. Frutinhas, leite, banho....que roupa visto hoje ? Huhahahuauhuhauhauha. Não, não. Acabo de lembrar de uma música terrível, não poderia me sentir mais menininha agora...” faltam tantas horas para eu ir e ainda não sei o que vestir pra ter certeza de te impressionar”....Ai ai. Contra os meus princípios isso. Vou normal. Puta que o pariu...já estou vinte minutos atrasada ? ? Queria muito saber pra onde vai todo o tempo que o universo rouba de mim. Ainda bem que trouxe uma revista pra ler no ônibus, que saco...Nossa, já cheguei? ? Achei que estivesse lendo....é, dormi de novo. Ai ai, correr, correr. Que professor chato, chega super na hora, nem sabe a manha de ser carioca. Ele já chegou, arhmm, que lindo, sentadinho, quietinho. Cara de sono mais perfeita. Hhuauhahauuha. Assumo que o comentário foi patético. Mas saiu mais rápido que minha vontade de segura-lo. Tão bonitinho. Aula, aula, aula. Estava quase esquecendo. Que saco, vou ver o que ele está fazendo. Nerd. Copiando tudo, acho que é o único. Nossa, o braço dele é lindo, nunca tinha reparado, a mão também. Bom. Bom. Não, não. Ruim, ruim. Reparar nessas coisas não é um bom sinal Marie. Não mesmo. Ok, aula novamente. Tentarei copiar algo. Olha, até que essa parada de economia na era Vargas parece interessante.




Pause, pause, pause
















Noooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooot.





Huhauhauhhauuhauha. Ridícula. Copiar, copiar, copiar...nossa, estou a cinco minutos inteiros concentrada na aula, nada de braços, mãos ou carinhas lindas de sono. Parabéns querida. Já ganhei estrelinha, vou dar uma olhadinha rápida agora. Falou comiiiiiiigo. Haja normalmente....tentando, tentando. Ufa, consegui manter um breve diálogo terráqueo normal! Mereço outra estrelinha. Que boca perfeita cara, nem parece boca de homem, que isso. Me perdi agora. Totalmente. Perdida. Quase poderia desenhá-la de tanto que prestei atenção....tomara que ninguém tenha notado.Acabou a aula...que aula mais curta, droga. Tchaaaaaaaaaaaaau pra você também. É...foi embora. Outra semana inteira por vir agora...


Sentimental - Los Hermanos

sexta-feira, março 16, 2007

Basta


Eu mudo demais
Conforme todas as estações
Voltando a mim mesma
Em todos os verões
Já mudei demais

Eu falo demais
Mais que todas as canções
Porém a mesma coisa em todos os refrões
Eu já repeti demais

Eu sonho demais
Já sonhei que voava, caia e ria
Já sonhei que podia fazer mais
Hoje ainda sonho acordada
Perdida em meio a tantas ilusões esquecidas
Já quase morri de amor
Acho que já sonhei demais

Eu sofro demais
Sofro pelo que é certo e banal
Sofro ao ver mais um sol se pôr
Sofro pela ausência, pela perda
Sofro pelo tormento
E por não conseguir fugir da dor
Provavelmente já sofri demais
E já basta

quinta-feira, março 15, 2007

Gabriel Garcia Marques

Não sou de fazer citações ou postar nada diretamente pessoal.
Por um motivo que eu mesma desconheço.
Mas isso me pareceu bonito.
Singelo e verdadeiramente belo.


"É necessário abrir os olhos e perceber que as coisas boas estão dentro de nós, onde os sentimentos não precisam de motivos nem os desejos de razão. O importante é aproveitar o momento e aprender sua duração, pois a vida está nos olhos de quem sabe ver". (Gabriel Garcia Marques)

terça-feira, março 13, 2007

A solidão e um penhasco

Às vezes temo a minha própria carência
A minha própria essência
Toda a insegurança que há dentro de mim
Às vezes só quero chorar e pôr pra fora
Toda a mágoa, todo o rancor
Toda a falta de amor
Que acho patético demais para falar
Às vezes só quero gritar
Xingar todos os santos
E dizer que amar
Só serve para se enganar
Queria me jogar
Pular lá do alto gritando
Que é ridículo tentar
E quando por engano ouvem meu pranto
Calo
Como se fosse um grande engano
Pra não ter que explicar
Porque estou me afogando, me acabando
Mas quando olho pro lado
E vejo alguém me chamando
Meu pensamento voa
Como que por encanto
Porém nunca é você
Ou alguém especial chamando
É só o grito de um pássaro
Pensando que esta cantando
E eu percebo que somente a solidão e um penhasco
É que estão me esperando

quinta-feira, março 08, 2007

Infinito


Olho pro infinito e nada vejo
Olho pro infinito e tudo é possível
Milhões de estrelas
Milhões de tipos de vida circulando meu planeta
Milhões de tipos de vida circulando minha cabeça
Milhões de idéias, milhões de poemas
Tantas letras, tantas perdas
Minha memória não agüenta mais
Qualquer vitória me parece atroz
Ou mesmo difícil, dura
Quase impossível
Não, já não quero vitórias ou mesmo derrotas
Cansei de lutar, cansei de buscar
Descobri que o melhor é parar
É olhar
Olhar pro mundo
E pro futuro que há dentro de cada piscar
Onde tudo pára, tudo basta
Por um breve instante de grande medo
Onde só vemos o escuro que há
Dentro do nosso próprio pensar
Dentro do meu próprio imaginar
Onde sempre confundo ser com estar
Amar com fantasiar
E perdoar com calar
Então eu olho pro céu
E ainda que esteja ao léu
Alguma mudança....eu consigo
Olho pro infinito e quase peço asilo
Imagino se será bonito
Um dos poucos lugares onde não vejo perigo
Queria me mudar pra esse abrigo...