sábado, julho 28, 2007

Pouca coisa


O céu fica cada vez mais escuro pra mim
E ninguém percebe a tristeza alheia
As pessoas passam
Assim como as horas e os dias
Cada um em seu tempo e da sua maneira
E poucos voltam atrás
Pouca coisa se relaciona
Pouca coisa importa
E ninguém mais cumpre promessas
Tudo parece se afastar da minha esfera
E pouco a pouco eu já não conheço ninguém
Não reconheço rostos ou vozes
E vejo um estranho todos os dias no espelho
Os sentimentos passam por mim como meteoros
E nenhum deles fica tempo o suficiente
As pessoas que eu amava parecem inacessíveis
Ou talvez eu tenha ido longe demais
Talvez tenha me perdido
Até de mim
Só sei que a vida está indo embora
E tudo me parece vulgar
Meus momentos não possuem mais brilho
E o amor se transformou em carinho
Hoje odeio conversas de elevador
Ou trocas desnecessárias de afeto
Porque nada soa verdadeiramente certo
E o mundo parece ter aumentado a velocidade
Mas eu permaneço no mesmo lugar
Trancada, tentando voltar
E o universo a minha volta corre
Cada um com seu lugar, sua hora, sua pressa
Cada canto com um vazio particular
E eu só penso em ficar nua
E sair pintando a vida por onde passar
Colocar cores
Tentar viver amores
Diminuir a correria
Mudar tudo de lugar
As velas acesas me lembram de algo
E penso no sagrado que deveria existir
No interior de cada pensamento profano
E nas palavras, no canto
No som da risada de cada ser humano
Que assisto a cada dia seguir por aqui
Mas ninguém percebe mais os sentimentos alheios
E o desespero nos meus olhos já parece normal

sexta-feira, julho 27, 2007

Antes do fim



Acho que a vida é muito mais
Pena que eu seja tão pequena diante dela
E me sinta tão incapaz
Ainda sabendo que este sentimento é uma farsa
Uma desculpa
Uma maneira de fugir ainda mais
Fugir do que quero, do que espero
Fugir de coisas que sei que são possíveis
Mas que dão trabalho demais
Ou são arriscadas demais
Planos que nunca foram traçados por ninguém
E a consequente necessidade de abrir um caminho no meio do nada
Acho que fujo, então, de mim mesma

E de mil coisas que quero
Entrando numa cadeia de acomodação global
E repetindo as mesmas coisas que todo mundo
Unicamente porque é provado que dão certo
Talvez eu até tente fugir de uma maneira diferente
Mas é só pra parecer que não estou fugindo de verdade
E tentando provar que todo mundo está
Para tudo parecer um pouco mais certo
Quando não está...
Nada está certo ou bonito ou verdadeiro

Nem em mim nem no resto do mundo
E todos gritam por mudanças
Querendo ser mais do que sabem que são
O mundo continua girando

E quase ninguém percebe que continua parado
Porque tudo parece estar no seu devido lugar
E ninguém mais presta atenção no céu
Ou no formato das nuvens
E a vida passa cada vez mais rápida
Por todo mundo
Quando o vento sopra

E já não se ouve mais seu grito
É preciso mudar de lugar
Quando a vida passa sem trazer sorrisos
É preciso mudar
Mudar tudo
Sair
Voar
Enquanto a vida passa

É preciso realizar sonhos
Levantar e lutar
Mas antes da vida passar

quinta-feira, julho 26, 2007

Limites e horizontes


Existe coisa demais no mundo
Existe muita gente
Muitos lugares, muitos sorrisos
Perdidos em milhões de momentos
Que eu posso nunca viver
Ou que eu venha a esquecer
Em cada segundo
Eu vejo mil possibilidades
E tenho mil vontades
E a maioria delas nunca chegará à realidade
Algumas nem ao menos serão compreendidas
Outras são inconfessáveis demais para se pronunciar
E a cada momento
Algo totalmente novo e extraordinário...
Morre
E talvez venha daí a minha eterna dor
Porque cada perda me dói
Arranca de mim uma parte preciosa
Situações que eu nunca vou viver
E o resto de mim intensifica-se na busca por mais

Considero sublime a busca pelo resto do mundo
A incansável busca do além
Ainda quando se sabe que sempre haverá algo mais
Um limite a ser cruzado

Há guerra demais no mundo
Muitos pensamentos opostos
E, às vezes, tudo que eu quero é destruir algo
E me tornar como todo mundo
Quando há energia demais por dentro
É necessário explodir
E tentar por um fim em tudo
Tento fazer isto à minha maneira
Que pode até ser clichê
Abandonar tudo
Enterrar todas as coisas
Vivas ou mortas
Construir algo novo
Ainda que sem destino
Ainda que sem rumo
E tentar fazer algo melhor
Ao desenhar meu próprio futuro
Realizar este desejo praticamente intrínseco à minha pessoa
Que pulsa em mim todos os dias
Que está tatuado na minha pele
Embora somente eu possa ver
Este desejo
Que me manda ir
Somente ir

domingo, julho 15, 2007

S.E.N

Eu gosto da sua cara de sono
Gosto do seu jeito de falar
E de calar
Gosto quando mexe no cabelo
Gosto das suas roupas amassadas
Da calça jeans surrada
Do seu jeito de andar
Gosto da sua mochila preta
E de como ela parece um casco de tartaruga
Gosto dos sustos que dá
Gosto quando conta coisas engraçadas
Gosto quando senta e não diz nada
Ou quando sai sem avisar
Gosto quando fica irritado às quartas-feiras
Gosto até de te ouvir reclamar
Gosto de como parece alheio a tudo
E de como acredita que passa pelo mundo sem ninguém reparar
Gosto do seu olhar solitário
Do seu cabelo bagunçado
E da sua cara de quem está sempre a pensar
Gosto da sua boca perfeita
Gosto quando usa sua hering vermelha
Gosto da argola pendurada na sua orelha
Gosto da sua cor
E de como diz “alô”
Gosto do allstar no seu pé
E dos cocos na sua camisa
Gosto até da alergia que tanto te irrita
E de como fica feliz quando seu time ganha
Gosto quando usa seus óculos
Gosto quando me olha nos olhos

E parece não ter o que falar
Gosto quando tira assuntos do nada
Mas de repente se cala
Sem se importar com quem precisa falar
Gosto de não saber tanto sobre você
E ainda assim gostar do que consigo ver

(Adoro quando te encontro sem querer
E odeio o fato de não me querer)



É tão bonito e destrutivo sentir isso
Mas melhor quando passa
E se percebe o quanto os sentimentos podem ser fugazes

quinta-feira, julho 12, 2007

Espera atroz


A espera me é atroz
Porque não me soma nada
Somente permaneço imóvel
A espera de tudo
Ou a espera de nada
E parece que nada chega
Que nada acontece
E que tudo permaneceu ruim
Ou vago demais...
Perdido quem sabe
Mas definitivamente calmo
Sim, calmo demais
E a vida sem grandes sentimentos arrebatadores
Me parece injusta
Acho injusto ter que lutar
Lutar por algo que já deveria ser meu
Por direito
Por princípio
Ou mesmo por fim
Algo que deveria estar aqui
E ainda não chegou
Um lugar, uma pessoa, uma coisa
Uma janela, quem sabe
Ou somente uma sensação
Que não consigo acessar
Não sei bem como
Só sei esperar...
Mas estou esperando há tempo demais
Esperando algo para me levar

quarta-feira, julho 11, 2007

Eu e meu diploma

Terminei a faculdade.
Ainda não recebi o diploma e não colei o grau, mas tecnicamente falando, eu já terminei a faculdade.
Só que eu ainda não sei o que fazer.
Nem faço idéia na verdade.
E é incrível como isto choca as pessoas. É como se todos tivessem que ter um plano de vida aos 10 anos de idade. E segui-lo fielmente. Daí se no ginásio (eu sei que não se fala ginásio mais, agora é ensino fundamental, mas eu acho feio, oras, problema meu) você decide mudar de idéia, logo começa a ouvir críticas, pois a escolha do segundo grau (por favor, não vamos discutir novamente, você com certeza já conhece meu ponto de vista) é super importante. Se mudar de idéia depois, quanto à faculdade, nossa, tenho pena de você, sei exatamente que este tipo de coisa demora meses para ser esquecida. Mas meus queridos leitores, não se atrevam a mudar de idéia no meio da faculdade, isto é farinha pra encher o saco de um ser humano por toda a vida.
Porque se vocês não têm decorado, o façam agora, a vida tem que ser exatamente assim: Se nasce, cresce, estuda, arruma um excelente emprego, um companheiro, procria-se e morre (com muito dinheiro pra deixar de herança). Só que pra se alcançar a parte do excelente emprego, há que passar pela fase do estudo, que reza a lenda é uma fase de preparação. Pois é, amigos, a concorrência é grande e você te que ser mais esperto que todo mundo. Logo, não há tempo pra se desperdiçar. Você tem que estudar muito, de preferência um pouco mais que todo mundo, ter um bom plano, e seguir em frente.
Nem preciso dizer que tempo é dinheiro e vantagem e que mudar de idéia vai contra tudo isso. É por isso que as pessoas ficam desesperadas quando vêem alguém confuso, é porque elas querem o seu bem, logo, querem que você chegue na frente. Claro que as pessoas terminam loucas e querendo se matar, mas para os humanos isto é normal, então pula esta parte. O grande problema é quando alguém foge à regra e joga tudo pro alto. Aí os humanos ficam loucos.
Não que eu vá jogar tudo pro alto. Vamos com calma. Eu simplesmente estou caminhando no escuro por agora. Simples assim. Terminei a faculdade e não acho isso nada demais. Isso não me torna mais inteligente ou apta que ninguém. Nem me sedimenta ou algo do tipo. Não na minha cabeça. Eu poderia muito bem pendurar meu diploma num malabar e entrar pro circo. Ninguém mais entende isso, mas pra mim é super normal. Poderia também enfiar o meu diploma numa mochila e sair com ele por aí, sem rumo. Afinal, diplomas provavelmente também gostam de passear. E seriamos os dois felizes, eu e o diploma.
Conheço muita gente que teria arrepios ao me ouvir dizendo isso. Só que é a pura verdade. Eu não sei o que fazer, oras. E realmente acho o circo muito mais interessante que algum escritório. E a estrada mais bonita que qualquer shopping center. Ou o mundo é muito estranho ou eu sou uma marciana, porque, pra mim, a vida deveria partir de uma escolha pessoal baseada num desejo íntimo da pessoa. E eu deveria estar fazendo cinema. Porque eu me recuso a usar terno e gravata e trabalhar com gente chata. E convido você, caro leitor, a fazer o mesmo. Livre-se do seu patrão. Roube ele e fuja. Melhor ainda: todos que trabalharem, façam um rombo na sua empresa, vamos fazer um fundo pró-liberdade! Compramos uma ilha, fundamos o Estado da Marmelada e pronto, circo pra toda parte. Ou eu me candidato a presidente e todos vocês votam em mim. Uhmm, vendo daqui, já tenho quatro votos! É assim que se começa mesmo. É, viram, em alguns poucos minutos já arrumei o que fazer. Vou pegar meu diploma e seremos presidentes.

segunda-feira, julho 09, 2007

Intervalo


Paulo não saberia dizer exatamente como foi. Um dia simplesmente acordou trinta anos mais velho. Seu rosto havia mudado, seu corpo e todos os objetos ao seu redor, que ou estavam completamente obsoletos ou lhe eram completamente estranhos. Estava acordado por mais de uma hora e ainda não tinha forças suficientes para sair da cama, somente olhava tudo com um misto de espanto e medo, porém de forma condescendente debaixo de seu lençol. Pensava que só poderia ser um sonho, afinal não estava em pânico, tudo lhe parecia estranhamente familiar e certo. E embora buscasse na memória historias que lhe contassem como aquilo foi acontecer, realmente só havia um grande vazio entre seus vinte e seus cinqüenta anos, porque de alguma maneira, sabia que essa era a sua idade agora, na verdade, tinha certeza.
Num ímpeto de coragem levantou-se bruscamente da cama, teria caído no chão se não fosse uma poltrona para aparar sua queda e começou a andar pelo quarto, como quem parte para uma grande aventura sem volta. Examinava cada centímetro do recinto e cada objeto com um cuidado absurdo, receando perder algum mínimo detalhe importantíssimo. Depois de gastar mais algumas horas observando tudo, temendo barulhos que aparelhos eletrônicos faziam aleatoriamente, seu estomago roncou e assim, como que por mágica, esse chamado da natureza fez esvair-se todo o medo que lhe assombrava o espírito e dirigiu-se à cozinha, como se a conhecesse intimamente por todos esses trinta anos e calmamente preparou um sanduíche. Enquanto comia ficou pensando nas suas ultimas lembranças, os dias que seguiram-se ao seu aniversario de vinte anos. Lembrou-se de como amaldiçoara seu destino, dizendo que podiam passar-se trinta anos sem que nada de novo acontecesse, afinal a vida seria mesmo um longo martírio monótono. E assim passaram-se mais alguns minutos em que sua mente ficou completamente vazia, concentrada apenas no sanduíche que comia e no cenário estranhamente familiar a sua volta.
Enquanto observava tudo notou um álbum de fotos em cima de um móvel e foi correndo pega-lo. Sentou-se no chão e passou o resto do dia imerso naquela documentação ilustrada da sua vida. Com algum esforço conseguiu montar uma historia. Descobriu que se formara não em jornalismo, que era o que queria, mas em direito, provavelmente porque era isso que seu pai queria. Terminou com a menina que namorava e até mesmo pensava em casar e teve varias outras, presentes em fotografias por um período de no máximo três anos – sabia disso porque tinha um hábito, que agora se mostrava útil, de anotar as datas das fotografias atrás das mesmas. Apesar de ter dado pra descobrir muita coisa sobre si mesmo, algumas coisas não são passadas através de fotos ou mesmo de diários, se ele tivesse um.
Paulo não sabia se havia sido feliz, triste, frustrado, não fazia idéia de nada, da sensação de cada experiência, tudo agora estava reduzido a algumas fotografias e uma historia montada – uma historia que deveria ter sido vivida. Um sentimento angustiante começava a lhe apertar o peito quando se lembrou da convicção com que achava que a vida era um peso constante e quase ficou aliviado ao pensar que se o fosse, então realmente se livrara de muita coisa ao pular tanto tempo. Estava quase acreditando em si mesmo quando começou a chorar compulsivamente e não sabia se era por culpa ou medo. Acordou deitado em meio às fotografias e sentiu-se bem por um breve momento, até se recordar do que aconteceu. Desde que se lembrava, esta era sua sensação preferida, a de estar quase dormindo, quase acordado, quando nada importa, nada é nem ao menos completamente real. Mas este momento acabava de passar, e ele tinha que se levantar e agüentar o peso de sua existência. Dos cacos de seu passado e os planos para o futuro.

domingo, julho 08, 2007

Ir embora

É preciso ter coragem
Para sorrir e para chorar
É preciso ter coragem
Para gritar e para calar

Mas penso que o medo também faz parte
A angústia, a dúvida
E tudo que me prende neste lugar
Todos os meus pensamentos e sentimentos
Todos os lugares para os quais posso não voltar
Mas esta ânsia de ir embora me castiga
E me faz ponderar
Entre ficar ou fugir pra nunca voltar
Não sei o que me aguarda
Não sei do que vou gostar
Sei que sentirei falta de tudo
Do meu mundo
Até mesmo do meu suposto futuro
Mas preciso procurar
Algo pra preencher este vazio
Ou ao menos pra me ajudar a suportar
Sei que é preciso ter coragem
Para ir e para ficar
É preciso ter coragem
Para parar e para continuar

sábado, julho 07, 2007

Algum lugar


As vezes eu acordo e acho que envelheci trinta anos
As vezes me sinto uma criança
As vezes o mundo gira rápido demais
As vezes um dia parece durar uma semana
E eu só queria que tudo passasse
Só queria mudar o ritmo da música
Pra poder mudar a dança
Adicionar instrumentos medievais
Para contrastar com meu canto pós-moderno
As vezes eu gostaria de desfazer as coisas
Pra poder fazer tudo certo
Expandir os limites de tudo
Da minha vida, do mundo
Quem sabe mudar todo o futuro
E achar um lugar no meio de tudo isso
Pra descansar
Sentar e pensar
Ver a beleza no fundo de cada abismo
As vezes eu só gostaria de ser outra pessoa
Ver o mundo com outros olhos
E ter outras lembranças
As vezes eu só consigo pensar em ir embora
Sair daqui
Talvez nunca mais voltar
Fugir de algo que sei que me persegue
Mas que não sei bem o que é
Só sei que sinto este imenso medo
Este imenso desejo
De escapar do vazio, do desespero
Que assola tanta gente
Com as quais não quero me igualar
Mas as vezes acho que talvez queira isso demasiadamente
Sem saber como vai ser
Se tudo de fato mudar
Ou as vezes eu me esqueça
Do fato de que nem tudo tem um lugar