segunda-feira, maio 28, 2007

O assalto.

Fui assaltada hoje.
Tenho vinte e um anos, moro no Rio de Janeiro, cidade famosa também pela violência urbana e fui assaltada pela primeira vez.
Uma amiga minha costumava dizer – porque agora ela não vai mais poder dizer isso – que eu deveria ser estudada porque nunca havia sido assaltada apesar de abusar do fato de morar numa cidade violenta. É, agora ela vai ter que mudar o discurso, visto que sou mais um número nas estatísticas...
O louco é que eu estava saindo de casa com meus planos previamente estabelecidos. Ia ao shopping trocar um dvd, passar no super mercado e voltar pra casa. Decidi ir andando porque além de precisar queimar quantas calorias fossem possíveis, estava a fim de pensar um pouco na vida e por isso decidi levar um pequeno caderninho da Cinderela ( no qual escrevo todo tipo de pensamento louco) junto comigo. Bem, não vou me alongar muito na história porque o final está escrito na primeira linha do texto, mas o fato é que nem cheguei perto de completar tudo o que estabeleci para minha noite e ainda por cima perdi tudo: MEU dvd, MEUS cds, MEUS livros, MINHAS coisas aleatórias jogadas na mochila e principalmente, MEU caderninho da Cinderela.
Cara, estou mesmo muito indignada por conta do caderninho. Tenho que frisar isso. E me martirizo toda vez que lembro que iria deixá-lo em casa, afinal ninguém escreve enquanto anda, mas pensei que me sentiria melhor com ele por perto....e o levei. Enfim, ele vai terminar o dia de hoje na lixeira mais próxima dos cidadãos que o levaram...e eu nem posso fazer nada. Até porque eram três os caras e eu não ando com uma doze na cintura. E o pior é que ninguém entendia quando cheguei relatando o ocorrido o quanto aquele caderno era importante! As pessoas falaram na grana que levaram, nos documentos, nas coisas caras que estavam lá dentro...e não que eu não seja nem um pouco materialista, não me sinto assim tão afastada da humanidade nem tão desvinculada do mundo capitalista, mas o que me dói é o que vai fazer falta, e o que vai fazer falta é o maldito caderninho...
Gosto das minhas coisas porque elas mesmo que minimamente fazem parte de mim, contam algo da minha história, estiveram comigo em momentos importantes...não sou do tipo que troca de bolsa toda hora pra seguir as mirabolantes tendências da moda ou que está sempre trocando de celular para seguir a tecnologia de ponta que o mercado disponibiliza. Por acaso a minha mochila era meio cara, mas porque me apaixonei por ela, e ela ficaria comigo por uns dez anos, se não tivessem levado...As poucas coisas caras que haviam nela estavam ali porque aprecio ter-las e todas já estavam comigo havia tempo e permaneceriam por outro longo período – claro, se não tivessem sido levadas. E os caras que a levaram provavelmente vão abrir, ver MUITO papel jogado, provas, textos, livros, o tal caderno (que tristeza ter que incluí-lo nessa lista) e jogar tudo fora de cara. Daí vão pegar a minha carteira e achar dentro dela mais uma infinidade de papeis e cartões de visita aleatórios, e claro, jogar tudo fora, salvo o dinheiro devidamente amassado e espalhado. Vão ver que ao invés de um novíssimo Ipod ou até mesmo um mp3Player eu carregava um DiscMan muito do velho e alguns cds perdidos lá dentro (acabo de lembrar neste exato momento que um cd do Counting Crows ao vivo estava lá dentro, e brother, esse cd é tão importante quanto o tal caderninho...), vão achar uma perda de tempo e jogar finalmente tudo fora, afinal apesar de bonita e cara a minha mochila era suja como um chão de metrô. E no final, ninguém vai ficar tão feliz, eles que se expuseram por quase nada e eu que perdi minhas coisas das quais eu tanto gosto.
Outra coisa chata de ser assaltado é que além de ter roubado seus bens materiais tem sempre algo a mais que vai com os assaltantes. No meu caso foi o apreço que sinto pelo caderninho, pelo cd, etc. E algo que eu nem sabia que poderia ser roubado: a minha rotina. A minha rotina era segura, uma velha conhecida minha, era uma amiga mesmo. Eram os meus planos, que eu sempre fiz – apesar do velho papo de morar numa cidade perigosa – sem pensar muito no que eu posso ou não fazer levando em conta o mundo lá de fora. Tudo que eu tinha planejado para o dia de hoje foram alteradas e muitas coisas que estavam planejadas para outros dias também foram alteradas por estarem vinculadas a coisas que se encontravam naquela mochila. E agora a minha vida, que era somente guiada pelas minhas escolhas, ainda que insanas, confesso, foram alteradas pela violência da minha cidade. Por sorte não deixei levarem mais, como a minha paz, a minha – ainda que pequena – tentativa de compreensão do outro, e toda sorte de coisas que as pessoas normalmente deixam que levem. Enfim, nunca entendi completamente essas pessoas que tem medo de tudo na cidade onde vivem, sempre a considerei especialmente bela e acolhedora, mas agora entendo, porque por mais que continue presa dentro de mim, vou passar a olhar cada vez mais pros lados.
Tenho medo desse mundo. E do lugar pra onde ele me leva a cada dia que passa.

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