sexta-feira, abril 20, 2007

Pensando o homem em mim. Parte dois.

Toda constatação de maldade no mundo, seja no plano social ou político, invariavelmente me entristece. Cada noticia ruim na televisão me mostra, na maioria das vezes com imagens chocantes, a realidade caótica em que vivemos. E todo dia acontece algo de diferente e surpreendentemente pior. Quando somos menores, por bastante tempo acreditamos que o mal se limita às guerras e conflitos devidamente delimitados, salvo poucos casos de barbárie efetuados por psicopatas (ou sempre alguém com um desvio absurdo de comportamento) que sempre chocam a sociedade. Quando crescemos e prestamos mais atenção ao noticiário percebemos que a maldade está em todo lugar, que a violência é gratuita e que o lado negro da força ganha inúmeras vezes sim, ainda que infelizmente. Vemos o tempo todo seqüestros, assassinatos em série, estupros. Todo tipo de violência. Generalizada. Mas o mal é sempre o outro, é sempre algo distante, até mesmo cinematográfico. E daí começam a surgir as generalizações, o assaltante é sempre o cara pobre que entra sujo no metro, o tarado é sempre o bêbado que repara nas meninas que passa, etc. Esses tipos são os que devem ser evitados, e mesmo que alguém que não se pareça com o estereótipo criado, se cometer uma falha, vai se procurar algum desvio de conduta na pessoa que possa se encaixar num perfil pré-estabelecido. Se um playboy rouba alguma coisa, mesmo não sendo o típico menino favelado, vai se fuçar alguma coisa até achar. Uma característica negativa qualquer para se culpar, daí se passa a omitir o fato do jovem ser de classe alta para dizer que era, por exemplo, viciado. Se a pessoa for pobre é potencialmente perigosa. Se for rica, mas viciada, também. E assim essas várias características passam a compor o tipo “bandido”. Mas e as atrocidades que não estão no código penal ? Como trair uma pessoa, por exemplo. Ninguém está indefeso contra esse tipo de coisa. Se estereótipos não ajudam em nada com casos sérios, para este tipo de situação simplesmente nem existem estereótipos. Porque a principio, qualquer um pode trair qualquer um a qualquer momento. É tanto qualquer, tanta improbabilidade, que então pode-se esperar o pior de qualquer um. As chances de um agiota te ferrar são maiores que a do seu amigo, mas mesmo assim, este também pode fazer algo contra você a qualquer momento. Não existem seguros contra este tipo de coisa. E o que é pior: de alguém desonesto sabe-se que pode-se esperar desonestidade sempre, mas de alguém que consideramos honesto não, pois nunca se sabe quando esta pessoa vai fazer algo realmente estúpido enquanto não olhamos. Porque o ser humano pode não merecer ser taxado como essencialmente egoísta e ruim, mas demonstra ao longo de sua jornada pelo mundo ser extremamente corruptível. Se não quer sempre o que é do outro, pelo menos quer sempre defender o que é seu e ter mais ainda, ainda que tenha que passar por cima do outro. E se tiver que escolher em algum momento entre ter trabalho para ter o que quer e roubar o que o outro está prestes a conseguir para ter mais fácil, não há duvidas de que vai escolher o caminho mais curto. Enquanto a dor do outro for literalmente a dor do outro, ela não importa tanto assim, se é pra se auto-satisfazer. Mas será que somos corruptíveis invariavelmente ou pelo menos corruptíveis o suficiente a ponto de deixar tanta coisa ruim acontecer para o nosso próprio lucro? Até que ponto se pode ir por um desejo? E, principalmente, será que até mesmo eu faria algo assim, como muitos, sem nem ao menos me dar conta disso? Não gostaria de pensar que algum dia serei capaz de passar por cima de quantas pessoas for necessário para chegar onde quero. Mas se tanta gente faz isso, se isso parece tão normal e eu não me considero tão melhor que ninguém...me pergunto se quando chegar o meu momento serei forte o bastante para não me corromper e seguir em frente lutando com as minhas próprias mãos. Também gosto de pensar que essas coisas partem da índole de cada um. E que felizmente posso confiar na minha e na das pessoas que chamo de amigos. Mas é triste constatar que índole é uma característica intransferível. Uma daquelas que já nasce conosco, assim como a bunda. Penas que algumas pessoas tenham mais bunda que índole.

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